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Atrás de países desenvolvidos, Brasil é sétimo colocado mundial no consumo de agrotóxicos por área

Segundo o pesquisador Caio Carbonari, da Unesp, indicação do país no topo desse ranking é mito

  05/07/2018 - 09h03min
Arte / ClicStudio

São tempos de debates acirrados entre ambientalistas e ruralistas. A discussão sobre agrotóxicos voltou com força no dia 25 de junho, quando a comissão especial da Câmara que analisa novas regras para a regulação de agrotóxicos no Brasil aprovou – com 18 votos favoráveis e nove contrários – o relatório de mudança na legislação, do deputado Luiz Nishimori (PR-PR). A proposta original do atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, de 2002, ainda tem um longo caminho a ser percorrido: é necessário que o texto seja apreciado no plenário da Câmara dos Deputados e também no Senado. Em meio a isso, informações nem sempre verdadeiras sobre a agricultura e a utilização dos agrotóxicos são difundidas. A mais popular delas: o Brasil é o maior consumidor de defensivos agrícolas no mundo.

De acordo com Caio Carbonari, professor doutor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, a imagem que se cria sobre o consumo de agrotóxicos no Brasil é falsa, porque quando levamos em conta apenas o valor total de agrotóxicos comercializados, o país aparece em primeiro lugar. No entanto, essa informação é irrelevante se não compararmos os dados normalizados, ou seja, se não correlacionarmos a utilização de defensivos por área ou por produção:

– Quando comparamos o consumo por área, o do Brasil é inferior ao de muitos países desenvolvidos, como Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. Na verdade, o consumo brasileiro é compatível com muitos países relevantes do ponto vista de produção agrícola mundial. Isso em um ambiente de produção tropical, que favorece substancialmente a ocorrência de pragas, plantas daninhas e doenças.

De acordo com dados da FAO e da consultoria Phillips McDougall, se a análise tomar por base o volume de defensivos efetivamente utilizados, o Brasil cai para 13º posição e passam à nossa frente Canadá, Espanha, Austrália, Argentina, Estados Unidos e Polônia.

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Engenheiro agrônomo e conselheiro do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná), Dionisio Luiz Pisa Gazziero esteve reunido no início de junho com políticos e cerca de 250 especialistas em Londrina para discutir a fiscalização e a atuação do conselho. Segundo Gazziero, se trabalhássemos apenas com a agroecologia se tornaria impossível servir a mesa de toda a população:

– Atualmente, a maioria das pessoas está na cidade e poucos agricultores estão no campo, trabalhando arduamente e enfrentando desafios diários a fim de produzir alimentos. Produção orgânica é legitima, tem seu mercado, mas não é suficiente para sustentar toda a necessidade da população por alimentos.

Carbonari defende que o melhor critério para medir o uso equilibrado de agrotóxicos seria utilizar uma das ferramentas já consolidadas e com grande aceitação por agências reguladoras e instituições de pesquisa no mundo todo: o EIQ (Environmental Impact Quotient of Pesticides, na tradução, Quociente de Impacto Ambiental), desenvolvido em 1992 por pesquisadores do New York State Integrated Pest Management. Essa ferramenta permite quantificar e estabelecer comparações quanto ao risco do consumo de defensivos agrícolas, levando em consideração uma série de fatores como a dose de ingrediente ativo aplicada, características físico-químicas e toxicológicas e dinâmica ambiental de cada composto. O EIQ ainda avalia o risco associado a diferentes componentes, como o consumidor dos produtos agrícolas, o trabalhador envolvido na manipulação e aplicação e o ambiente.

Falando sobre consumo, talvez você já tenha ouvido outra afirmação amplamente divulgada: a de que o brasileiro ingere cinco litros de agrotóxicos por ano. Gazziero diz que divulgar um número desses é assustar a população com base em outro mito.

– Como se chegou nesse número? Simplesmente dividindo o consumo de pesticidas no Brasil pela população? É uma conta errada, um cálculo grosseiro, que não leva em consideração diversos pontos importantes, como a quantidade utilizada em lavouras de exportação, a proteção das plantações e o tempo entre a última aplicação do produto e a data da colheita.

Na visão de Carbonari, esse tipo de projeção só faz sentido se for estudado o quanto dos produtos aplicados é degradado. Mesmo assim, muitos agrotóxicos são usados em culturas não alimentícias e parte substancial é destinada à produção de alimentos para exportação, passando por rigorosa inspeção nos países compradores. Quando utilizados adequadamente, os agrotóxicos são aplicados com a antecedência necessária para que sejam degradados e não implicam risco para os consumidores.

Gazziero completa afirmando que a discussão do tema, de uma forma geral, é válida como estímulo ao debate e ao aprendizado com foco em evolução:

– Nem tudo na agricultura é perfeito e se tem algo que tiramos desse ataque é, justamente, o estímulo para que possamos seguir buscando a modernização e regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil.

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