É evidente e crescente a preocupação com o futuro do planeta e, com isto, questões como o uso abusivo de recursos naturais entram em pauta. Entre os problemas que impactam a sociedade, estão o desmatamento e a contaminação da água e do solo. A pergunta que permeia é: “de quem seria a culpa”? Muitos atribuem a situação à intensificação do processo de industrialização e à utilização irracional dos recursos naturais orientados para atividades agrícolas. Mas será que é isso mesmo que está acontecendo? Estudos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) indicam que não. De acordo com dados de um mapeamento inédito realizado pela Empresa, as áreas de vegetação nativa preservadas por agricultores, pecuaristas, silvicultores e extrativistas somam 25% do território brasileiro e equivalem a R$ 3,1 trilhões em patrimônio imobilizado.
Quando questionado sobre os prejuízos que a agricultura pode causar ao meio ambiente, Ivo Lessa, diretor-presidente da Sargs (Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul), afirma que existe uma polêmica que não é de hoje:
– Parece que o setor rural sempre tem alguma culpa, algo para ser criminalizado. E vem de um longo período. O debate mais recente foi sobre a o aumento das áreas de plantio, degradação de solo e desmatamento. O Cadastro Ambiental Rural (entenda no quadro abaixo) está mostrando justamente o contrário: as áreas agrícolas representam 7% do total e as propriedades rurais têm, no mínimo, 25% das suas áreas internas preservadas.
Arte / ClicStudioDe acordo com a Sargs, o manejo inadequado do solo pode levar à perda irreversível de propriedades de interesse de toda a sociedade. Sua degradação, normalmente, caracteriza-se pela rapidez com que ocorre e pela morosidade e pelo custo elevado de recuperação. Para Lessa, a tecnologia faz parte de um processo de evolução da sociedade e isso vale também para a lavoura:
– Temos resultados suficientes para afirmar com segurança que a agricultura não causa esse impacto. É preciso, sim, qualificar, treinar, mostrar que existem bons produtos e relembrar profissionais e técnicos das boas práticas. É isso que temos pensado como uma forma de eliminar ou amenizar os problemas. A tecnologia é uma aliada para agricultura. O pessoal precisa entender que é necessária. Errado é dizer que o produto “x” ou “y” é cancerígeno, sem base nem comprovação.
Tecnologia auxilia a reduzir cada vez mais a degradação do meio ambienteNeste contexto, por meio de uma parceria que envolve Embrapa, Emater, as Secretarias de Agricultura, Meio Ambiente, Desenvolvimento Rural e Educação do RS, e outras entidades públicas e privadas, como a Syngenta, a Sargs está propondo uma ampla discussão sobre a Conservação do Solo e da Água, com o objetivo de readequar as técnicas, incentivar, apoiar e definir ações para a implementação de uma agricultura sustentável. Concordando com Lessa, André Minitti, engenheiro agrônomo e supervisor do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Informática Agropecuária, afirma que os conhecimentos científicos acessíveis a uma geração foram moldados de forma a facilitar a vida de quem produz. O momento é de uma transformação digital intensa, com a incorporação de novas tecnologias e equipamentos, como sementes melhoradas, drones e veículos autônomos.
– O que se tem é uma série de soluções disponíveis ao produtor, que escolhe o arranjo que lhe seja mais conveniente levando em consideração os aspectos econômicos e sociais. A incorporação de tecnologia à agricultura é contínua e alia-se às premissas de sustentabilidade aplicadas.
Ainda conforme Minitti, a tecnologia auxilia a reduzir cada vez mais a degradação do meio ambiente, sendo um elemento agregador ao processo. Como exemplo, o engenheiro agrônomo cita o caso da água: tem-se desde estudos para o desenvolvimento de sementes que necessitem de menor quantidade dessa substância, até a combinação de um grande número de sensores que predizem com maior precisão os locais de aplicação de defensivos agrícolas. São várias frentes dirigidas ao assunto e outras se debruçando sobre temas tão importantes como, a exemplo da descarbonização da agricultura e da preservação da biodiversidade.