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Estudos indicam que defensivos agrícolas não interferem na vida das abelhas quando aplicados corretamente

Conforme a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas, a relação dos polinizadores com práticas agrícolas tem um caráter complementar, caracterizada por benefícios para todos os envolvidos

  01/10/2018 - 09h05min

Afinal, a prática da agricultura tradicional mata abelhas? Antes de aprofundar essa questão que tem vindo à tona junto ao debate recorrente sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, é importante lembrar que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 75% da alimentação humana depende, direta ou indiretamente, de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização. Das cem espécies de culturas que proveem 90% dos alimentos do mundo, cerca de 70 são polinizadas por abelhas, também de acordo com a ONU Meio Ambiente.

Zuza Reinhard / Unsplash

Conforme a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.), a relação das abelhas com práticas agrícolas sempre teve um caráter complementar, com benefícios para todos os envolvidos. Enquanto as abelhas obtêm o néctar e o pólen necessários para se alimentarem e produzirem o mel e outros derivados (para as espécies que formam grandes colônias), a agricultura se beneficia da polinização que amplia sua produtividade e garante frutos com mais qualidade e, consequentemente, maior valor de mercado.

Segundo o secretário-executivo da entidade, Antonio Celso Villari, a disseminação de informações incorretas acaba ocasionando um entendimento errado por parte da população e prejudica as tomadas de decisões por parte dos órgãos públicos. Por isso, instituições acadêmicas e organizações privadas que atuam no agronegócio e órgãos públicos têm discutido amplamente o assunto:

– Há um certo exagero em muitas notícias, que geralmente culpam exclusivamente os defensivos agrícolas e ignoram outros fatores que impactam diretamente a saúde das abelhas, como a redução do habitat natural (proveniente de desmatamento e queimadas) e da disponibilidade de alimento; disseminação de doenças apícolas (vírus, bactérias, fungos, protozoários e ácaros) espalhadas pelo homem por meio de apicultura migratória, importação de material apícola contaminado, entre outros.

Para a engenheira agrônoma Paula Arigoni, coordenadora do Colmeia Viva – iniciativa liderada pelo Sindiveg em prol da complementaridade entre agricultura e apicultura –, não é correto afirmar que os defensivos agrícolas estão matando as abelhas. De acordo com a especialista, os resultados obtidos após três anos de estudos do Colmeia Viva MAP (Mapeamento de Abelhas Participativo) – iniciativa de pesquisa que conta com a participação de Unesp e UFScar para o levantamento de dados sobre a mortalidade de abelhas – indicam que incidentes ligados à aplicação de defensivos estão relacionados com o uso incorreto e práticas apícolas desalinhadas:

– Os resultados representam insumos para implementação de um plano de ação nacional voltado às boas práticas de aplicação de defensivos agrícolas, com foco em uma relação mais produtiva entre agricultura e apicultura. Há de se esclarecer que o que deve ser combatido não é a aplicação generalizada de defensivos agrícolas, mas sim a utilização incorreta dos produtos, porque configura um risco não só às abelhas, mas também à segurança das pessoas e do meio ambiente.

Aplicação Aérea

Blog Syngenta / Divulgação

Alvo frequente de críticas e dúvidas, a aplicação aérea passou a ser questionada com mais ênfase em alguns Estados brasileiros e é recorrentemente apontada como vilã das abelhas e polinizadores em geral. O Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), porém, afirma que a prática é segura, mas reforça que a comunicação entre operadores aeroagrícolas, produtores rurais e apicultores é essencial. Conforme o engenheiro agrônomo Gabriel Colle, diretor-executivo do Sindag, a aplicação aérea está diretamente ligada ao aumento de eficiência e produtividade nas lavouras, o que a torna uma ferramenta essencial quando se quer produzir mais, com segurança e gastando menos:

– A aviação é uma ferramenta precisa e com alta tecnologia embarcada, completada pela alta formação exigida do pessoal envolvido. Além disso, Sindag e entidades parcerias têm trabalhado intensamente na manutenção e no aprimoramento de boas práticas no setor para minimizar riscos.

Dentre as iniciativas, é possível destacar o Programa de Certificação Aeroagrícola Sustentável (CAS). Trata-se de um sistema voluntário de certificação para aplicadores aéreos, que tem como principal objetivo incentivar a capacitação e a qualificação de empresas de aviação agrícola e de operadores aeroagrícolas privados. O objetivo prioritário do processo é o aprofundamento do conceito de responsabilidade e sustentabilidade das operações de aplicação aérea de defensivos, com foco em pulverizações corretas e alinhadas às boas práticas. Isso implica consequências positivas diretas, tais como redução de riscos ambientais, aumento de performance do produto aplicado e melhoria do resultado econômico da atividade, assegurando a sustentabilidade da aplicação aérea.

Colle explica que uma eventual retirada da aviação da agricultura significaria suprimir, justamente, uma das melhores ferramentas de segurança ambiental e operacional no agro. Em seguida, prejuízos nas principais lavouras estratégicas do Brasil – soja, cana-de-açúcar, algodão, arroz, milho e laranja – provocariam danos catastróficos para a economia nacional, em um setor que responde por, praticamente, um terço do PIB do país.

De acordo com um estudo divulgado em junho pela Mendonça e Nogueira Advogados, de Brasília, tomando como base apenas os grãos, essas perdas poderiam chegar a 500 milhões de toneladas até 2022, impactando também a renda de profissionais rurais e de toda a sociedade.

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