Próximo às ondas do mar de Imbé, Litoral Norte do RS, reside um goleador frio e letal para os goleiros da várzea do futebol gaúcho: o V9. Ou Vandigol. Ou simplesmente Vanderlei.
– Gosto do apelido V9, valoriza o que mais sei fazer, gols – comenta o atacante de 25 anos, 1m71cm, corte de cabelo moderno, nenhum fio fora do lugar.
Vanderlei dos Santos Steinhorst é o nome mais famoso de uma família de 10 irmãos que ocupa uma casa simples, mas bem organizada na rua 42, em Imbé. Não é para menos. O atacante, que hoje é destaque nos principais torneios amadores do Estado, já bateu bola e enfrentou estrelas como Neymar, Ganso e André, que atualmente defende o Sport Recife. Explica-se: em 2010, foi levado por um empresário para um período de testes no Santos. Sob olhar orgulhoso dos manos, que tomaram a cozinha da casa para acompanhar a entrevista, Vanderlei estufou o peito para contar a fase em que esteve nos juniores do time paulista:
– Fiquei seis meses treinando no CT Rei Pelé. Pelo menos umas três vezes fui chamado para completar o time que iria fazer coletivo com os profissionais. O Neymar e o Ganso eram guris, mas já estavam a mil. Tive a honra de enfrentá-los, vou levar isso para vida toda – recorda, só lamentado não ter mais as fotos tiradas com os craques, pois teve sua máquina fotográfica roubada na época.
A passagem pelo Santos de Neymar e Ganso – antes ele tinha passado por Juventude (Caxias), Gepol (Osório) e Novo Hamburgo – despertou o interesse de times gaúchos. Atuou por Garibaldi (2013), Palmeirense (2014) e Veranópolis e Brasil de Farroupilha (2015). A grana insuficiente destes clubes – não chegava a R$ 2 mil por mês – fez Vanderlei repensar o futuro. O futebol amador surgiu como uma luz. Jogos no torneio Serramar faziam brilhar o olho com cachês de R$ 300 a R$ 500 por partida. Bicos em campeonatos de futsal também ajudavam no orçamento: R$ R$ 100, R$ 100 por jogo.
– Dá uma graninha boa. Tiro um salário limpo de R$ 3,4 mil até R$ 4 mil mensais – assegura o artilheiro.
Salário suado. Mas nem tanto quanto nos tempos em que ajudava o pai Edson, 60 anos, nos trabalhos de jardinagem em Imbé. Edson lembra em que muitas vezes precisava terminar o serviço sozinho, pois Vanderlei escapava para jogar.
– Fazer o quê, né? O guri sempre foi louco por bola, nos restou incentivar – afirma o pai, Edson, mãos esbranquiçadas pelo cimento da obra que faz para aumentar mais um quarto da casa.
Sim, porque a família de Vanderlei, que já era grande, só aumenta. Alguns irmãos casaram e os sobrinhos já correm pelos corredores da residência. Vanderlei colabora no crescimento dos Steinhorts. Tem uma menina chamada Heloísa, de um ano e oito meses.
– Por ela e por meus irmãos tenho de me virar. Não posso decepcionar ninguém por aqui – destaca V9.
O goleador de 1m71cm – sempre desejou ter 10cm a mais para ser decisivo também na bola alta – almeja retornar para algum clube do Campeonato Gaúcho (já defendeu o Veranópolis, Garibaldi e Palmeirense). Mas sabe que a tarefa é dura. Enquanto isso, segue na batalha pelos campos da várzea e pelas quadras. Atualmente veste a camisetas de vários clubes: Juventude de Westfália e Kizomba (competições na Serra), Tramandaí RS (Serramar), AF e Ser Quintão (estes em jogos de futsal).
Seja nos gramados ou nas quadras, V9 acumula dezenas de gols a cada nova temporada. Homem de poucas palavras, Vanderlei deixa a timidez de lado quando fala sobre sua capacidade de balançar as redes.
– É muito gol. Nunca parei para contar, mas uns 400, pra mais. Fora as peladas. Foi um dom que Deus me deu – sorri V9.
Dom que o batalhão de irmãos admira. Caso de Cassiano, 15 anos, que pretende seguir os passos do mano.
– Quero seguir os caminhos dele. Também quero ser goleador – diz apontando para Vanderlei.
V9 é mais do que um homem-gol. É exemplo e inspiração para a grande família Steinhorst.
Manuel Soares Dias,
presidente do Serramar
"É muito rápido, mas sua maior qualidade é bater bem na bola. E tem coragem também, o que um bom atacante necessita."
VANDERLEI,
OU V-9, O VANDIGOL