Dilema de uma vida dupla

" O Brasil precisa que discursos sobre diversidade

e gênero sejam mais naturalizados. "

Como está sendo a repercussão da novela?

 

Está sendo incrível. A novela foi um sucesso, todos os núcleos e personagens possuem seu espaço na trama e conquistaram o público. A gente sente isso nas ruas, nos shoppings e nas redes sociais.

 

Qual é a importância, na tua opinião, de ter um personagem como Nonato/Elis em uma novela do horário nobre da Globo?

 

O Brasil precisa que discursos sobre diversidade e gênero sejam mais naturalizados. Somos o primeiro lugar em assassinatos por LGBTFOBIA (preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), temos poucas leis que garantem o direito à igualdade e o respeito. Assim, personagens que conseguem, mesmo que minimamente, trazer o diálogo na família, na escola e no dia a dia, podem contribuir pra questionar e provocar uma mudança na quebra de preconceito.

 

Já sofreste com preconceito ou alguma agressão?

 

Desde pequeno, sofri por ser pobre, aluno de escola pública, nordestino, artista. Somos um país cheio de preconceitos, precisamos olhar mais pela alegria e felicidade do próximo. A agressão não necessariamente tem que ser física, pois a verbal também machuca e traz traumas.

 

Pra ti, como ator e como ativista dos direitos LGBT, o que falta para que este grupo de pessoas seja mais respeitado?

 

Faltam políticas públicas para a comunidade LGBT. As ONGs fazem um trabalho importantíssimo, mas enquanto o governo não olhar para todos os seus filhos horizontalmente, respeitando o direito de igualdade, não seremos um país livre e democrático.

Em A Força do Querer o personagem de Silvero Pereira passou boa parte da trama se dividindo entre ser Nonato, o sisudo motorista de Eurico (Humberto Martins) com fama de garanhão, e Elis Miranda, sua versão feminina, que canta e se apresenta em palcos do Rio de Janeiro.

 

Em inúmeras cenas, o personagem apresentou sua história de vida. Rejeitado em casa, mudou-se para o Rio em busca de um sonho: a liberdade de ser quem era. Ele se dizia travesti e, se pudesse, passaria as 24 horas do dia vestido como uma mulher.

 

Atingido em cheio pelo preconceito, porém, decidiu forçar-se a viver como Nonato para garantir seu emprego e sua sobrevivência. Mas, às escondidas do chefe e até de amigos, no começo da novela, dava vazão ao desejo através de Elis Miranda, que também era drag queen.

“Somos um país cheio de preconceito”

 

Aos 34 anos, Silvero Pereira fez sua estreia na TV em A Força do Querer, mas tem uma longa trajetória no teatro. No começo de sua carreira, há 17 anos, percebeu que a classe artística dava pouco espaço para pessoas que se identificavam como travestis e transexuais. Desta percepção surgiu o coletivo de teatro As Travestidas, que já produziu dez espetáculos com esta temática.