o cidadão do século 21 por Lucia Ritzel

Uma das imagens mais emblemáticas quando se analisa a realidade da educação é a que compara uma sala de aula do século 19 com as que podemos encontrar hoje na maioria das escolas do país, inclusive nas nossas, no Rio Grande do Sul. O principal ambiente gerador de formação e transformação coletiva pouco mudou. Continua lá a professora, em pé, diante de alunos sentados em carteiras enfileiradas, cristalizados em um processo de transmissão de conhecimento expositivo, enquanto todos sabemos que o mundo não para de mudar. Existem avanços, mas essa imagem nos ajuda a não esquecer que temos de apertar o ritmo para resolver as urgências que ficaram para trás e colocar os dois pés no século 21.

 

O principal indutor da mudança neste momento são os alunos, que têm à disposição um cardápio de tecnologias que revolucionaram a relação espaço-tempo-movimento, levando a outras subjetividades e interesses, com um impacto enorme sobre comportamentos e expectativas de todos nós. Se olharmos bem a imagem da sala de aula, perceberemos que todos estão desconfortáveis e impacientes, um sinal de que esse modelo já não inspira nem dá conta da necessária conexão com o aprender. Isso sem falar naqueles que estão chegando agora à escola. A Geração Alpha, dos nascidos a partir de 2010. Sim, aqueles que, antes de caminhar, já sabem que deslizar o dedo sobre uma tela faz coisas acontecerem.

 

Ainda hoje, estamos pagando uma conta de atraso no campo da educação, decorrente do fato de que o Brasil foi um dos últimos países a abandonarem a escravidão, que, aqui, durou mais do que em qualquer outro. Dar acesso à educação básica para toda a população realmente pôs em marcha a engrenagem ocidental. Quanto antes, melhores os resultados. O caminho da Revolução Industrial, por exemplo, foi aberto na Inglaterra, há mais de 370 anos, por meio de uma educação ancorada na universalização. No Brasil, a universalização do ensino, veja só, se iniciou nos anos 1970, configurando o principal marco nessa área das últimas seis décadas.

 

– A universalização do acesso à educação é um feito realmente fantástico, uma revolução que nós, brasileiros, conseguimos fazer – afirma o secretário estadual de Educação, Ronald Krummenauer.

 

Antes, escola era para poucos, e educação formal não fazia parte, como plano de vida, do dia a dia

da maioria da população. No

Brasil de 1950, apenas 36,2% das crianças de sete a 14 anos tinham acesso à escola, segundo dados relacionados pelo ex-ministro da Educação José Goldemberg, em um artigo sobre investimentos governamentais em educação.

 

Em 1990, esse índice havia atingido 88%. O Censo Escolar de 2016, divulgado em fevereiro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), informa que pouco menos de 400 mil crianças de 6 a 14 anos não estão matriculadas em turmas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, o que representa cerca de 2% da população nessa faixa etária. A meta oficial é zerar essa fila em 2024, e é provável que consigamos.

Nos Anos Dourados de 1950 e 1960, o terror dos escolares era a Admissão ao Ginásio, uma peneira que deixava fora da escola, muitas vezes para sempre, mais ou menos metade dos estudantes que prestavam o exame. Crianças de 10 anos, 11 anos, eram submetidas à ansiedade similar à experimentada no vestibular. No Rio Grande do Sul, quem morava em cidades do Interior aguardava aflito e cheio de expectativa as provas que chegavam em envelopes lacrados diretamente de Porto Alegre. Para os reprovados, restava mais um ano em uma sala especial. Se não passassem novamente, o mais comum era abandonar os estudos, carregando uma maldisfarçada pecha de “burro”. Pergunte a um gaúcho que frequentou a escola nessa época e ficará sabendo que, em sala de aula, era somente o livro didático que fazia a ponte entre o professor e os alunos para o aprendizado. Muitos desses estudantes dirão a você em um só fôlego, ainda hoje, todos os afluentes do Rio Amazonas ou todas as capitais do mundo – daquele mundo, porque, hoje, o mapa geopolítico está diferente.

 

Não por acaso, os indicadores mostravam um ensino de qualidade, porém excludente, fundamentado na realidade de que o país não tinha estrutura – escolas e professores, basicamente – para acolher a todos que tinham idade de estudar. A Reforma de 1971, implementada durante o regime militar, fundiu o Ensino Primário com o Ginasial, eliminando o Exame de Admissão, e organizou o sistema educacional em 1º Grau, 2º Grau e Ensino Superior. Nessa época também foi criado o Mobral, para a alfabetização de jovens e adultos, extinto em 1985. Foram anos em que o crescimento econômico chamado de “Milagre Brasileiro” passou a exigir, mais e mais, mão de obra qualificada, o que acabou por impulsionar a escolarização.

Nos anos 1970, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a primeira do interior do país, completava sua primeira década, Paulo Freire, desde Harvard, publicava seu livro mais importante – A Pedagogia do Oprimido – enquanto a tecnologia em sala de aula eram o retroprojetor e o mimeógrafo, cujo cheiro de álcool das folhas de exercícios distribuídas pelos professores faz parte da memória olfato-afetiva

de mais de uma geração.

 

– Ainda eram poucos os brasileiros que avançavam nos estudos, vivíamos com a mentalidade da Era Industrial, com mudanças lentas e lineares, o que tornava mais fácil o funcionamento da escola – analisa o professor Mozart Neves Ramos, diretor de Inovação e Articulação do Instituto Ayrton Senna e um dos maiores conhecedores da realidade educacional do Brasil.

A inquietação em relação ao modelo de educação vem do fato de que ele ainda é muito parecido, em seus fundamentos e processos, com o de meio século atrás. Em todo o mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul, persiste a mesma configuração de sala de aula, afirma Krummenauer:

– Temos de reconhecer que a universalização foi um grande feito quantitativo, mas, em relação à qualidade do ensino, não tivemos o mesmo impacto.

Embora a Constituição de 1988 tenha registrado a preocupação com o direito de todos os cidadãos do país a uma educação de qualidade, não houve uma articulação com as fontes de recursos para tirar as palavras do papel. Inclusive, as contas públicas pioraram muito ao longo do tempo. Números informados pelo secretário gaúcho demonstram que, nos anos 1980, a arrecadação de impostos pela União correspondia a 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Nessa época, sobravam 5% para investimentos públicos. Hoje, a carga tributária corresponde a 40% do PIB, e o que sobra para investir fica em torno de 2%. No Rio Grande do Sul, observa Krummenauer, as contas estaduais registram déficit há pelo menos 40 anos, com consequências negativas em todos os setores. Na educação, não houve os investimentos necessários para renovação física das escolas nem para remunerar melhor os professores, por exemplo.

Numa época de grande efervescência social, decorrente da redemocratização, os movimentos sindicais protagonizaram grandes manifestações por melhores salários, valorização profissional e condições de ensinar. Em seu primeiro ano no Palácio Piratini, em 1987, o então governador Pedro Simon (PMDB) se viu às voltas com a mais longa greve do magistério, com 96 dias de paralisação. A Praça da Matriz virou a “Praça da Sineta”, por causa dos protestos diários de professores, liderados pelo Cpergs. Simon não foi o único governador atormentado pelas sinetas. Praticamente todos os seus sucessores enfrentaram paralisações dos professores e, mais recentemente, a ocupação de escolas por estudantes.

 

Além da deterioração da capacidade de investimentos, outras questões, externas à escola e à aprendizagem em si, passaram a impactar de forma negativa o modelo educacional, no país e no Estado. Krummenauer enumera a falta de segurança, a violência, o uso de drogas, o aumento de casos de gravidez na adolescência e a necessidade de muitos jovens de contribuir com a renda da família como fatores que, a partir dos anos 1980, passam a afastar, em especial os adolescentes, da sala de aula. É precisamente na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio que se concentram os principais problemas educacionais da atualidade. São os adolescentes que compõem a maior parcela dos 2,48 milhões de brasileiros com até 17 anos que não frequentam a escola, segundo dados da ONG Todos Pela Educação, com base em levantamento de 2015.

 

As dificuldades no dia a dia em uma das escolas públicas mais tradicionais do Estado foram mostradas por Zero Hora em reportagem especial publicada em 2013. A repórter Letícia Duarte e o fotógrafo Félix Zucco acompanharam o ano letivo na Turma 11F do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Testemunharam o abandono escolar, a repetência, a imersão no tráfico de drogas, a ausência de professores, as controvérsias entre professores e governo sobre o modelo educacional – fatores que explicam o porquê de o Rio Grande do Sul ter piorado os indicadores que avaliam a educação. Em 2015, o Estado registrou 3,5 de média, entre escolas pública e privadas, no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), usado como referência para a qualidade da educação no Brasil. Essa média representou um retrocesso de 11 anos: em 2005, a média era de 3,7, alertou a Rádio Gaúcha em reportagem sobre o tema.

O professor Mozart cita a frase “Temos uma escola do Século 19, professores do século 20 e alunos do século 21”, para resumir a desarticulação entre o conteúdo visto em sala de aula e a vida além da escola, profundamente transformada pela evolução e redução de custos que popularizaram o uso intensivo de tecnologia. Se ela está em todo lugar, em tudo o que a gente faz, como ficará fora do ambiente escolar? É um estudante, com um celular na mão, que tem instigado educadores e formuladores de políticas educacionais a buscar novas formas de ensinar e aprender, que reconectem os jovens com o ensino.

Somando notebooks, tablets e smartphones, o Brasil tem em uso, neste momento, 280 milhões de dispositivos móveis conectáveis à internet e uma certeza: a tecnologia é hoje parte inseparável da nossa vida. Essa presença mais ostensiva do digital no cotidiano das pessoas comuns se acelerou não faz muito tempo. Foi no começo de 2007, há apenas 10 anos, que Steve Jobs declarou, ao apresentar o iPhone:

 

– De vez em quando, vem

um produto revolucionário, que muda tudo.

Jobs foi também quem primeiro teve a ideia de vender aplicativos para smartphones que usam a internet como porta de conexão de dados em uma loja virtual exclusiva, inaugurando a vitrine de um novo mundo: os apps facilitam a vida em muitos aspectos. Também são canais para a criação de relacionamentos, mobilização social, mobilidade, compartilhamentos, busca de serviços, diversão, entre outras funcionalidades. Dia sim e outro também, somos surpreendidos por um app que resolve problemas que nem sabíamos ter.

Todos nós usamos redes sociais e aplicativos para conversar com amigos, para trabalhar, para estudar, para namorar, para marcar consulta médica, e a partir daqui cada um pode ir acrescentando itens a essa lista. WhatsApp, Uber e Netflix, quem nunca ouviu falar? Todos sabemos, também, o impacto dessas novidades, muitas vezes gera conflitos, como é o caso do Uber e outros aplicativos similares com os serviços de táxis das grandes cidades. Um exemplo mais afetivo sobre o uso desses dispositivos: a ansiedade dos apaixonados dispara no segundo depois que a mensagem é enviada ao amado e se acelera exponencialmente a cada minuto que a resposta não vem. Especialmente se os dois ‘vs’ ficaram azuis (sinal de que a pessoa recebeu e leu o texto enviado, mas não respondeu). Outro: mensagens de trabalho podem chegar a qualquer hora, e não apenas no horário de expediente, situação que em muitos países já está regulamentada em lei para coibir abusos.

 

A internet está tão profundamente inserida em nossa vida, que chegou até aos objetos do dia a dia: carro, TV, geladeira, câmara de segurança, elevadores, ônibus, aviões, aparelhos hospitalares, equipamentos industriais. O Gartner Group, uma consultoria especializada em tecnologia, prevê que a Internet das Coisas (IOT) inclua 8,4 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo ainda este ano. E, até 2020, serão 20,6 bilhões, a maioria

nos Estados Unidos, Europa Ocidental e China.

A tecnologia digital abriu mais uma avenida de possibilidades ao revolucionar o uso de dados acumulados. Foi a Nasa, em 1990, que criou o termo Big Data, para conjuntos de dados complexos que exigiam processos além dos limites computacionais. Nos últimos anos, o Big Data é constantemente utilizado por grandes empresas para conhecer mais seus diversos públicos e ser mais assertiva na criação de produtos, que vão desde equipamentos complexos, como os utilizados nas pesquisas do pré-sal brasileiro, até dispositivos instalados em carrinhos de compras que ajudam a compreender melhor o gosto dos consumidores ou que informam em tempo real rotas com menos tráfego e se há vagas no estacionamento mais próximo.

 

Mas talvez a mudança mais radical que esteja em curso nesse momento é a que transforma o nosso jeito de pensar e de compreender o mundo. Essa nova visão vai além do modelo mecanicista que dominou os processos científicos desde o século 16 e cultiva um novo pensamento, que leva em conta relações, padrões e contextos. Para o físico Fritjof Capra, pioneiro nos estudos dos sistemas em rede, na medida em que avançamos no século 21, fica evidente que as grandes questões do nosso tempo – energia, ambiente, mudança climática, segurança alimentar e financeira – estão interconectadas e são interdependentes, uma noção, aliás, vinda da Ecologia. Essa nova forma de pensar, segundo Capra, representa uma revolução na visão de mundo, na ciência e na sociedade tão radical quanto a provocada por Nicolau Copérnico, que colocou o pensamento ocidental de pernas para ao ar ao afirmar que era a Terra que girava em torno do Sol. É uma abordagem que surge em um contexto de grandes mudanças, que desestabilizam antigos conceitos, aumentando o grau de incerteza. Para onde vamos?

 

Em 2013, a RBS empreendeu uma investigação profunda para entender as transformações em curso na sociedade. Durante 10 meses, a equipe liderada pela cineasta Flavia Moraes registrou opiniões de comunicadores, geeks, futuristas, filósofos, pesquisadores, jornalistas, universitários e historiadores, em mais de 300 horas de entrevistas feitas no Brasil e nos Estados Unidos. O resultado foi organizado em 11 premissas e disponibilizado gratuitamente na plataforma online thecomunicationrevolution.com.br, lançada no final de 2014, em um evento realizado em Porto Alegre para 400 convidados e transmitido pela TV COM. Seja Verdadeiro, Seja Confiável, Faça Parte, Pense Plural, Pense Mobilidade, Seja Beta, Pense à Frente, Pense Elevado, Seja Colaborativo e Seja Útil emergiram do estudo como boas coordenadas para navegar nesse mar de novidades.

Para dar uma ideia do potencial da revolução que vivemos, Krummenauer observa que os estudantes que ingressaram na escola a partir de 2011, provavelmente, terão uma profissão que, neste momento, não existe. Qual, então, o modelo de ensino necessário no mundo de hoje e como a escola dará conta do desafio de proporcionar uma formação relevante para os cidadãos contemporâneos?

Do ponto de vista da aprendizagem, a tecnologia só veio para ajudar, diz o neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer-PUCRS), Jaderson Costa da Costa. Para isso, acredita, é preciso abandonar as abordagens tradicionais de ensino, porque as novas gerações são cada vez mais diferentes das que as antecederam. Antigamente, o salto geracional levava 30 anos, agora, esse intervalo gira em torno de 10 anos.

 

– A nova geração foi feita para um futuro que temos dificuldade de entender, com uma capacidade única de associar fragmentos que, para nós, pareciam fazer sentido apenas de um modo linear.

 

Somados à disseminação da tecnologia e ao salto geracional, os avanços nos estudos do comportamento do cérebro compõem os grandes acontecimentos das últimas seis décadas, na opinião de Costa. Foi só nos últimos 15 anos que novas tecnologias, não invasivas e sem que se precise injetar nada, permitiram a observação do cérebro humano em operação. Com isso, explica o neurocientista, estamos descobrindo, mais e mais a cada dia, como tomamos decisões, amamos, odiamos, nos viciamos, aprendemos. Podemos reconhecer como aprendemos, isto é, como o cérebro processa as informações, que funções utiliza, e, a partir disso, propor metodologias e didáticas que ajudem na aprendizagem.

 

– Para ler e escrever, aprendemos códigos, e, antes, não sabíamos qual era o processo cerebral para isso. Agora, sabemos os caminhos – explica.

 

O Instituto Ayrton Senna é um dos pioneiros em estudos que se utilizam da neurociência para ajudar na aprendizagem. Mozart Neves Ramos diz que, entre os objetivos, está o de estimular metodologias educacionais que levem para todas as escolas do país os quatro pilares da educação voltada para o Século 21: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a conhecer. Para colocá-los em prática na sala de aula, explica o professor Mozart, é absolutamente imprescindível desenvolver as chamadas habilidades socioemocionais – ou habilidades para a vida –, tais como pensamento crítico, criatividade, colaboração, comunicação e abertura para o novo, incluindo na matriz curricular a elaboração de projetos.

 

Apesar de médias baixas nos indicadores de qualidade de ensino e de ainda ter pela frente o desafio de oferecer internet e banda larga para as escolas, há iniciativas já em curso em algumas redes públicas que incorporam parte dessas tendências. O ensino da programação, por exemplo, já é realidade em municípios do Rio Grande do Sul, onde estudantes desenvolvem competências como pensamento computacional, criando jogos e aplicativos.

Como parte de um processo de revitalização de seu modelo de atuação realizado em 2013, a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS) lançou nos anos seguintes dois projetos que usavam códigos de programação, gamificação e competências socioemocionais para estimular a autonomia e o protagonismo jovem. O curso Go Code formava jovens programadores entre estudantes do Ensino Médio, enquanto o jogo Logus – A Saga do Conhecimento, um game para escolas públicas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, chegou a mobilizar mais de sete mil estudantes. Como executora do Investimento Social Privado da RBS, voltado para a Educação de Qualidade acessível a todos, a fundação criou o Prêmio RBS de Educação, para reconhecer bons projetos de apoio à leitura, realizados por professores e alunos de escolas públicas e privadas, este ano em sua quinta edição.

Uma das consequências mais inquietantes do avanço tecnológico e seu impacto em nossas vidas é o fato de que, cada vez mais, máquinas inteligentes vêm substituindo funções humanas. Para quem se preocupa com um futuro em que os robôs serão concorrentes para as pessoas, o neurocientista Jaderson Costa da Costa tem informações tranquilizadoras. Ele diz que os estudos sobre o funcionamento do cérebro levam a crer que, na medida em que as funções mecânicas podem ser delegadas, podemos “reservar” a capacidade do nosso cérebro para fazer associações e conexões de dados, criando um novo patamar de conhecimento.

 

– Não é mais preciso decorar porque dados podem ser rapidamente localizados na internet. Mas é fundamental desenvolver a capacidade de, a partir de dados, fazer diferentes associações que levem a novos resultados – afirma.

 

Segundo o neurocientista, as funções insubstituíveis são justamente as que nos fazem humanos: ética, emoção (comportamento, afeto) e criatividade.

 

Fundamentalmente, afirma, vamos preservar a nossa capacidade de errar e, de alguma forma, é assim que garantimos a nossa evolução. As máquinas não são programadas para errar. Mas nós, por sermos passíveis de erro, podemos refletir e aprender. A escola do futuro, diz Costa, tem de auxiliar as crianças e jovens a entender a essência humana da ética, das emoções e da espiritualidade.

 

Ser cada vez mais humano será o grande diferencial para a construção de um futuro melhor.

 

 

"a universalizaçao do acesso à educação é um feito realmente fantástico, uma revolução que nós, brasileiros, conseguimos fazer" ronald krummenauer
"ainda eram poucos os brasileiros que avançavam nos estudos, vivíamos com a mentalidade da era industrial, com mudanças lentas e lineares, o que tornava mais fácil o funcionamento da escola" mozart neves ramos
"de vez em quando, vem um produto revolucionário, que muda tudo." steve jobs
"a nova geração foi feita para um futuro que temos dificuldade de entender, com uma capacidade única de associar fragmentos" jaderson costa da costa
2.0 ECONOMIA
5.0 EDUCAÇÃO
3.0 POLÍTICA
6.0 CULTURA
INÍCIO
1.0 COMUNICAÇÃO
4.0 COMPORTAMENTO

Curadoria

Cláudia Laitano

Design digital

Thais Longaray

Edição

Altair Nobre,

Alexandre Elmi

e Rafael Balsemão

Ilustrações

Gilmar Fraga

Projeto gráfico

Melina Gallo

Uma das imagens mais emblemáticas quando se analisa a realidade da educação é a que compara uma sala de aula do século 19 com as que podemos encontrar hoje na maioria das escolas do país, inclusive nas nossas, no Rio Grande do Sul. O principal ambiente gerador de formação e transformação coletiva pouco mudou. Continua lá a professora, em pé, diante de alunos sentados em carteiras enfileiradas, cristalizados em um processo de transmissão de conhecimento expositivo, enquanto todos sabemos que o mundo não para de mudar. Existem avanços, mas essa imagem nos ajuda a não esquecer que temos de apertar o ritmo para resolver as urgências que ficaram para trás e colocar os dois pés no século 21.

 

O principal indutor da mudança neste momento são os alunos, que têm à disposição um cardápio de tecnologias que revolucionaram a relação espaço-tempo-movimento, levando a outras subjetividades e interesses, com um impacto enorme sobre comportamentos e expectativas de todos nós. Se olharmos bem a imagem da sala de aula, perceberemos que todos estão desconfortáveis e impacientes, um sinal de que esse modelo já não inspira nem dá conta da necessária conexão com o aprender. Isso sem falar naqueles que estão chegando agora à escola. A Geração Alpha, dos nascidos a partir de 2010. Sim, aqueles que, antes de caminhar, já sabem que deslizar o dedo sobre uma tela faz coisas acontecerem.

 

Ainda hoje, estamos pagando uma conta de atraso no campo da educação, decorrente do fato de que o Brasil foi um dos últimos países a abandonarem a escravidão, que, aqui, durou mais do que em qualquer outro. Dar acesso à educação básica para toda a população realmente pôs em marcha a engrenagem ocidental. Quanto antes, melhores os resultados. O caminho da Revolução Industrial, por exemplo, foi aberto na Inglaterra, há mais de 370 anos, por meio de uma educação ancorada na universalização. No Brasil, a universalização do ensino, veja só, se iniciou nos anos 1970, configurando o principal marco nessa área das últimas seis décadas.

 

– A universalização do acesso à educação é um feito realmente fantástico, uma revolução que nós, brasileiros, conseguimos fazer – afirma o secretário estadual de Educação, Ronald Krummenauer.

 

Antes, escola era para poucos, e educação formal não fazia parte, como plano de vida, do dia a dia

da maioria da população. No

Brasil de 1950, apenas 36,2% das crianças de sete a 14 anos tinham acesso à escola, segundo dados relacionados pelo ex-ministro da Educação José Goldemberg, em um artigo sobre investimentos governamentais em educação.

 

Em 1990, esse índice havia atingido 88%. O Censo Escolar de 2016, divulgado em fevereiro deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), informa que pouco menos de 400 mil crianças de 6 a 14 anos não estão matriculadas em turmas do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, o que representa cerca de 2% da população nessa faixa etária. A meta oficial é zerar essa fila em 2024, e é provável que consigamos.

Nos Anos Dourados de 1950 e 1960, o terror dos escolares era a Admissão ao Ginásio, uma peneira que deixava fora da escola, muitas vezes para sempre, mais ou menos metade dos estudantes que prestavam o exame. Crianças de 10 anos, 11 anos, eram submetidas à ansiedade similar à experimentada no vestibular. No Rio Grande do Sul, quem morava em cidades do Interior aguardava aflito e cheio de expectativa as provas que chegavam em envelopes lacrados diretamente de Porto Alegre. Para os reprovados, restava mais um ano em uma sala especial. Se não passassem novamente, o mais comum era abandonar os estudos, carregando uma maldisfarçada pecha de “burro”. Pergunte a um gaúcho que frequentou a escola nessa época e ficará sabendo que, em sala de aula, era somente o livro didático que fazia a ponte entre o professor e os alunos para o aprendizado. Muitos desses estudantes dirão a você em um só fôlego, ainda hoje, todos os afluentes do Rio Amazonas ou todas as capitais do mundo – daquele mundo, porque, hoje, o mapa geopolítico está diferente.

 

Não por acaso, os indicadores mostravam um ensino de qualidade, porém excludente, fundamentado na realidade de que o país não tinha estrutura – escolas e professores, basicamente – para acolher a todos que tinham idade de estudar. A Reforma de 1971, implementada durante o regime militar, fundiu o Ensino Primário com o Ginasial, eliminando o Exame de Admissão, e organizou o sistema educacional em 1º Grau, 2º Grau e Ensino Superior. Nessa época também foi criado o Mobral, para a alfabetização de jovens e adultos, extinto em 1985. Foram anos em que o crescimento econômico chamado de “Milagre Brasileiro” passou a exigir, mais e mais, mão de obra qualificada, o que acabou por impulsionar a escolarização.

Nos anos 1970, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a primeira do interior do país, completava sua primeira década, Paulo Freire, desde Harvard, publicava seu livro mais importante – A Pedagogia do Oprimido – enquanto a tecnologia em sala de aula eram o retroprojetor e o mimeógrafo, cujo cheiro de álcool das folhas de exercícios distribuídas pelos professores faz parte da memória olfato-afetiva

de mais de uma geração.

 

 

– Com mudanças lentas e lineares, o que tornava mais fácil o funcionamento da escola – analisa o professor Mozart Neves Ramos, diretor de Inovação e Articulação do Instituto Ayrton Senna e um dos maiores conhecedores da realidade educacional do Brasil.

 

A inquietação em relação ao modelo de educação vem do fato de que ele ainda é muito parecido, em seus fundamentos e processos, com o de meio século atrás. Em todo o mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul, persiste a mesma configuração de sala de aula, afirma Krummenauer:

 

– Temos de reconhecer que a universalização foi um grande feito quantitativo, mas, em relação à qualidade do ensino, não tivemos o mesmo impacto.

Embora a Constituição de 1988 tenha registrado a preocupação com o direito de todos os cidadãos do país a uma educação de qualidade, não houve uma articulação com as fontes de recursos para tirar as palavras do papel. Inclusive, as contas públicas pioraram muito ao longo do tempo. Números informados pelo secretário gaúcho demonstram que, nos anos 1980, a arrecadação de impostos pela União correspondia a 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Nessa época, sobravam 5% para investimentos públicos. Hoje, a carga tributária corresponde a 40% do PIB, e o que sobra para investir fica em torno de 2%. No Rio Grande do Sul, observa Krummenauer, as contas estaduais registram déficit há pelo menos 40 anos, com consequências negativas em todos os setores. Na educação, não houve os investimentos necessários para renovação física das escolas nem para remunerar melhor os professores, por exemplo.

 

Numa época de grande efervescência social, decorrente da redemocratização, os movimentos sindicais protagonizaram grandes manifestações por melhores salários, valorização profissional e condições de ensinar. Em seu primeiro ano no Palácio Piratini, em 1987, o então governador Pedro Simon (PMDB) se viu às voltas com a mais longa greve do magistério, com 96 dias de paralisação. A Praça da Matriz virou a “Praça da Sineta”, por causa dos protestos diários de professores, liderados pelo Cpergs. Simon não foi o único governador atormentado pelas sinetas. Praticamente todos os seus sucessores enfrentaram paralisações dos professores e, mais recentemente, a ocupação de escolas por estudantes.

 

Além da deterioração da capacidade de investimentos, outras questões, externas à escola e à aprendizagem em si, passaram a impactar de forma negativa o modelo educacional, no país e no Estado. Krummenauer enumera a falta de segurança, a violência, o uso de drogas, o aumento de casos de gravidez na adolescência e a necessidade de muitos jovens de contribuir com a renda da família como fatores que, a partir dos anos 1980, passam a afastar, em especial os adolescentes, da sala de aula. É precisamente na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio que se concentram os principais problemas educacionais da atualidade. São os adolescentes que compõem a maior parcela dos 2,48 milhões de brasileiros com até 17 anos que não frequentam a escola, segundo dados da ONG Todos Pela Educação, com base em levantamento de 2015.

 

As dificuldades no dia a dia em uma das escolas públicas mais tradicionais do Estado foram mostradas por Zero Hora em reportagem especial publicada em 2013. A repórter Letícia Duarte e o fotógrafo Félix Zucco acompanharam o ano letivo na Turma 11F do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Testemunharam o abandono escolar, a repetência, a imersão no tráfico de drogas, a ausência de professores, as controvérsias entre professores e governo sobre o modelo educacional – fatores que explicam o porquê de o Rio Grande do Sul ter piorado os indicadores que avaliam a educação. Em 2015, o Estado registrou 3,5 de média, entre escolas pública e privadas, no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), usado como referência para a qualidade da educação no Brasil. Essa média representou um retrocesso de 11 anos: em 2005, a média era de 3,7, alertou a Rádio Gaúcha em reportagem sobre o tema.

O professor Mozart cita a frase “Temos uma escola do Século 19, professores do século 20 e alunos do século 21”, para resumir a desarticulação entre o conteúdo visto em sala de aula e a vida além da escola, profundamente transformada pela evolução e redução de custos que popularizaram o uso intensivo de tecnologia. Se ela está em todo lugar, em tudo o que a gente faz, como ficará fora do ambiente escolar? É um estudante, com um celular na mão, que tem instigado educadores e formuladores de políticas educacionais a buscar novas formas de ensinar e aprender, que reconectem os jovens com o ensino.

Somando notebooks, tablets e smartphones, o Brasil tem em uso, neste momento, 280 milhões de dispositivos móveis conectáveis à internet e uma certeza: a tecnologia é hoje parte inseparável da nossa vida. Essa presença mais ostensiva do digital no cotidiano das pessoas comuns se acelerou não faz muito tempo. Foi no começo de 2007, há apenas 10 anos, que Steve Jobs declarou, ao apresentar o iPhone:

Jobs foi também quem primeiro teve a ideia de vender aplicativos para smartphones que usam a internet como porta de conexão de dados em uma loja virtual exclusiva, inaugurando a vitrine de um novo mundo: os apps facilitam a vida em muitos aspectos. Também são canais para a criação de relacionamentos, mobilização social, mobilidade, compartilhamentos, busca de serviços, diversão, entre outras funcionalidades. Dia sim e outro também, somos surpreendidos por um app que resolve problemas que nem sabíamos ter.

Todos nós usamos redes sociais e aplicativos para conversar com amigos, para trabalhar, para estudar, para namorar, para marcar consulta médica, e a partir daqui cada um pode ir acrescentando itens a essa lista. WhatsApp, Uber e Netflix, quem nunca ouviu falar? Todos sabemos, também, o impacto dessas novidades, muitas vezes gera conflitos, como é o caso do Uber e outros aplicativos similares com os serviços de táxis das grandes cidades. Um exemplo mais afetivo sobre o uso desses dispositivos: a ansiedade dos apaixonados dispara no segundo depois que a mensagem é enviada ao amado e se acelera exponencialmente a cada minuto que a resposta não vem. Especialmente se os dois ‘vs’ ficaram azuis (sinal de que a pessoa recebeu e leu o texto enviado, mas não respondeu). Outro: mensagens de trabalho podem chegar a qualquer hora, e não apenas no horário de expediente, situação que em muitos países já está regulamentada em lei para coibir abusos.

 

A internet está tão profundamente inserida em nossa vida, que chegou até aos objetos do dia a dia: carro, TV, geladeira, câmara de segurança, elevadores, ônibus, aviões, aparelhos hospitalares, equipamentos industriais. O Gartner Group, uma consultoria especializada em tecnologia, prevê que a Internet das Coisas (IOT) inclua 8,4 bilhões de dispositivos conectados em todo o mundo ainda este ano. E, até 2020, serão 20,6 bilhões, a maioria

nos Estados Unidos, Europa Ocidental e China.

A tecnologia digital abriu mais uma avenida de possibilidades ao revolucionar o uso de dados acumulados. Foi a Nasa, em 1990, que criou o termo Big Data, para conjuntos de dados complexos que exigiam processos além dos limites computacionais. Nos últimos anos, o Big Data é constantemente utilizado por grandes empresas para conhecer mais seus diversos públicos e ser mais assertiva na criação de produtos, que vão desde equipamentos complexos, como os utilizados nas pesquisas do pré-sal brasileiro, até dispositivos instalados em carrinhos de compras que ajudam a compreender melhor o gosto dos consumidores ou que informam em tempo real rotas com menos tráfego e se há vagas no estacionamento mais próximo.

 

Mas talvez a mudança mais radical que esteja em curso nesse momento é a que transforma o nosso jeito de pensar e de compreender o mundo. Essa nova visão vai além do modelo mecanicista que dominou os processos científicos desde o século 16 e cultiva um novo pensamento, que leva em conta relações, padrões e contextos. Para o físico Fritjof Capra, pioneiro nos estudos dos sistemas em rede, na medida em que avançamos no século 21, fica evidente que as grandes questões do nosso tempo – energia, ambiente, mudança climática, segurança alimentar e financeira – estão interconectadas e são interdependentes, uma noção, aliás, vinda da Ecologia. Essa nova forma de pensar, segundo Capra, representa uma revolução na visão de mundo, na ciência e na sociedade tão radical quanto a provocada por Nicolau Copérnico, que colocou o pensamento ocidental de pernas para ao ar ao afirmar que era a Terra que girava em torno do Sol. É uma abordagem que surge em um contexto de grandes mudanças, que desestabilizam antigos conceitos, aumentando o grau de incerteza. Para onde vamos?

 

Em 2013, a RBS empreendeu uma investigação profunda para entender as transformações em curso na sociedade. Durante 10 meses, a equipe liderada pela cineasta Flavia Moraes registrou opiniões de comunicadores, geeks, futuristas, filósofos, pesquisadores, jornalistas, universitários e historiadores, em mais de 300 horas de entrevistas feitas no Brasil e nos Estados Unidos. O resultado foi organizado em 11 premissas e disponibilizado gratuitamente na plataforma online thecomunicationrevolution.com.br, lançada no final de 2014, em um evento realizado em Porto Alegre para 400 convidados e transmitido pela TV COM. Seja Verdadeiro, Seja Confiável, Faça Parte, Pense Plural, Pense Mobilidade, Seja Beta, Pense à Frente, Pense Elevado, Seja Colaborativo e Seja Útil emergiram do estudo como boas coordenadas para navegar nesse mar de novidades.

Para dar uma ideia do potencial da revolução que vivemos, Krummenauer observa que os estudantes que ingressaram na escola a partir de 2011, provavelmente, terão uma profissão que, neste momento, não existe. Qual, então, o modelo de ensino necessário no mundo de hoje e como a escola dará conta do desafio de proporcionar uma formação relevante para os cidadãos contemporâneos?

Do ponto de vista da aprendizagem, a tecnologia só veio para ajudar, diz o neurocientista e diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer-PUCRS), Jaderson Costa da Costa. Para isso, acredita, é preciso abandonar as abordagens tradicionais de ensino, porque as novas gerações são cada vez mais diferentes das que as antecederam. Antigamente, o salto geracional levava 30 anos, agora, esse intervalo gira em torno de 10 anos.

 

– A nova geração foi feita para um futuro que temos dificuldade de entender, com uma capacidade única de associar fragmentos que, para nós, pareciam fazer sentido apenas de um modo linear.

Somados à disseminação da tecnologia e ao salto geracional, os avanços nos estudos do comportamento do cérebro compõem os grandes acontecimentos das últimas seis décadas, na opinião de Costa. Foi só nos últimos 15 anos que novas tecnologias, não invasivas e sem que se precise injetar nada, permitiram a observação do cérebro humano em operação. Com isso, explica o neurocientista, estamos descobrindo, mais e mais a cada dia, como tomamos decisões, amamos, odiamos, nos viciamos, aprendemos. Podemos reconhecer como aprendemos, isto é, como o cérebro processa as informações, que funções utiliza, e, a partir disso, propor metodologias e didáticas que ajudem na aprendizagem.

– Para ler e escrever, aprendemos códigos, e, antes, não sabíamos qual era o processo cerebral para isso. Agora, sabemos os caminhos – explica.

O Instituto Ayrton Senna é um dos pioneiros em estudos que se utilizam da neurociência para ajudar na aprendizagem. Mozart Neves Ramos diz que, entre os objetivos, está o de estimular metodologias educacionais que levem para todas as escolas do país os quatro pilares da educação voltada para o Século 21: aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a conhecer. Para colocá-los em prática na sala de aula, explica o professor Mozart, é absolutamente imprescindível desenvolver as chamadas habilidades socioemocionais – ou habilidades para a vida –, tais como pensamento crítico, criatividade, colaboração, comunicação e abertura para o novo, incluindo na matriz curricular a elaboração de projetos.

 

Apesar de médias baixas nos indicadores de qualidade de ensino e de ainda ter pela frente o desafio de oferecer internet e banda larga para as escolas, há iniciativas já em curso em algumas redes públicas que incorporam parte dessas tendências. O ensino da programação, por exemplo, já é realidade em municípios do Rio Grande do Sul, onde estudantes desenvolvem competências como pensamento computacional, criando jogos e aplicativos.

 

Como parte de um processo de revitalização de seu modelo de atuação realizado em 2013, a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS) lançou nos anos seguintes dois projetos que usavam códigos de programação, gamificação e competências socioemocionais para estimular a autonomia e o protagonismo jovem. O curso Go Code formava jovens programadores entre estudantes do Ensino Médio, enquanto o jogo Logus – A Saga do Conhecimento, um game para escolas públicas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, chegou a mobilizar mais de sete mil estudantes. Como executora do Investimento Social Privado da RBS, voltado para a Educação de Qualidade acessível a todos, a fundação criou o Prêmio RBS de Educação, para reconhecer bons projetos de apoio à leitura, realizados por professores e alunos de escolas públicas e privadas, este ano em sua quinta edição.

 

Uma das consequências mais inquietantes do avanço tecnológico e seu impacto em nossas vidas é o fato de que, cada vez mais, máquinas inteligentes vêm substituindo funções humanas. Para quem se preocupa com um futuro em que os robôs serão concorrentes para as pessoas, o neurocientista Jaderson Costa da Costa tem informações tranquilizadoras. Ele diz que os estudos sobre o funcionamento do cérebro levam a crer que, na medida em que as funções mecânicas podem ser delegadas, podemos “reservar” a capacidade do nosso cérebro para fazer associações e conexões de dados, criando um novo patamar de conhecimento.

 

– Não é mais preciso decorar porque dados podem ser rapidamente localizados na internet. Mas é fundamental desenvolver a capacidade de, a partir de dados, fazer diferentes associações que levem a novos resultados – afirma.

 

Segundo o neurocientista, as funções insubstituíveis são justamente as que nos fazem humanos: ética, emoção (comportamento, afeto)

e criatividade.

 

Fundamentalmente, afirma,

vamos preservar a nossa capacidade de errar e, de alguma forma, é assim que garantimos a nossa evolução. As máquinas não são programadas para errar. Mas nós, por sermos passíveis de erro, podemos refletir e aprender. A escola do futuro, diz Costa, tem de auxiliar as crianças e jovens a entender a essência humana da ética, das emoções e da espiritualidade.

 

Ser cada vez mais humano será o grande diferencial para a construção de um futuro melhor.

 

 

o cidadão do século 21 por Lucia Ritzel
"ainda eram poucos os brasileiros que avançavam nos estudos, vivíamos com a mentalidade da era industrial" mozart neves ramos
"de vez em quando, vem um produto revolucionário, que muda tudo" steve jobs
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