Pelas cordas vocais, Fátima Gimenez, 63 anos, revela toda a sua devoção ao Rio Grande. Apaixonada pela cultura gaúcha desde menina, a cantora é conhecida como a “voz oficial” do Hino Rio-grandense, por ter sido a primeira intérprete a gravar em disco a música símbolo do Estado, no fim de 1989.

 

– Estava terminando de mixar meu primeiro LP. Uma noite, sonhei que cantava o hino para milhares de pessoas. Aquilo mexeu comigo. De última hora, decidi incluir a música no repertório. Além do piano clássico, acrescentei a gaita e pedi para os guris tocarem em ritmo mais lento. No fim da gravação, estávamos todos chorando – recorda.

 

Para surpresa da artista, a iniciativa não agradou a antiga Coordenação de Moral e Civismo no Estado. Por telegrama, o órgão oficial determinou o embargo do trabalho.

COMO ESTÃO DISTRIBUÍDOS?

O hino é um dos nossos maiores símbolos. É uma das coisas que nos fazem ter orgulho de ser quem somos, de ser gaúchos.

Com mais de 80 prêmios no currículo, a maioria em festivais de música nativista, Fátima diz que sua vida não seria a mesma sem o apego às tradições, mas, no caso dela, essa paixão não está associada à religião.

 

– Acho bonito ter uma crença, mas não acredito que seja necessário ser praticante para ser tradicionalista. É o meu caso. Sou católica e me sinto bem dentro da igreja, mas não pratico. Não vou à missa – afirma.

 

Todos os anos, a artista participa do Acampamento Farroupilha, na Capital, e da Cavalgada do Mar. Gosta de churrasco, mantém o hábito do chimarrão e adora se pilchar. É jurada em eventos de música e tem orgulho de valores que considera tipicamente gaúchos, como a hospitalidade e a honradez.

 

– A tradição é a memória cultural de um povo. É a confraternização familiar em torno de um mesmo ideal, da valorização dos antepassados, de tudo que eles construíram. É um legado que temos de preservar.

– Levei um susto. O lançamento foi proibido porque, até então, o hino só podia ser executado por bandas marciais em eventos oficiais – relembra.

 

Disposta a reverter a situação, Fátima pediu ajuda a Nico Fagundes, ex-apresentador do Galpão Crioulo morto em 2015. Expoente do tradicionalismo e advogado respeitado, Nico defendeu Fátima e conseguiu a liberação da obra.

 

– A partir dali, meu sonho se tornou realidade. Perdi as contas de quantas vezes apresentei o hino em eventos. Já cantei até no Exterior – destaca.

Quase 30 anos depois, a cantora e compositora de Porto Alegre ainda se comove ao entoar os famosos versos.

Fátima é devotada ao gauchismo, participa do Acampamento Farroupilha e da Cavalgada do Mar. Só não vai à missa

GAÚCHO RAÍZ

“Voz” do hino riograndense, Fátima valoriza mais a tradição do que a fé

EXPEDIENTE

Reportagem: Juliana Bublitz e Marcelo Gonzatto

Imagens: Fernando Gomes e Omar Freitas

Design e infografia: Thais Longaray e Thais Muller

Edição de vídeos: Luan Ott

Edição digital: Rodrigo Müzell

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“Voz” do hino riograndense, Fátima valoriza mais a tradição do que a fé