Modesto Soares Mendes, 61 anos, se ajeita na cadeira de seu galpão, no município de Manoel Viana, na Fronteira Oeste, e coloca a mão direita na altura da guaiaca.

 

– Aqui em Manoel Viana todo mundo usava revólver na cintura. Usei arma desde os 14 anos. Era normal, e nunca vi ninguém dar tiro em ninguém por causa disso – afirma, lamentando o fim da época em que portar uma arma era costume entre muitos gaúchos da Campanha.

 

Os demais hábitos relacionados ao gauchismo seguem intactos na vida do pecuarista aposentado: a pilcha, o chimarrão, a música campeira, o churrasco e tudo mais que caracteriza os habitantes do Pampa. Só deixou de bailar no CTG do município, há uns 10 anos, quando caiu de um cavalo e “abriu a bacia”. A dor de abandonar a dança é compensada pela alegria de ter transmitido o gosto pelas tradições gauchescas aos filhos – dos três, apenas o caçula é pouco íntimo dos costumes campeiros.

COMO ESTÃO DISTRIBUÍDOS?

A pior coisa no ser humano é não ter religião. Não ter a quem pedir forças.

– Uma criança que monta em um cavalo não esquece nunca mais – sustenta.

 

Esse foi o seu caso, mas por absoluta necessidade. Com sete anos, tropeava com o pai pelos campos verdejantes a fim de transportar cabeças de gado para venda. O pai tomava os bichos de empréstimo, na confiança do fio do bigode, e pagava os fornecedores depois de receber o dinheiro pelos animais.

 

Hoje, Modesto agradece a Deus por ter garantido uma vida mais confortável à família. Deus, ele garante, jamais deixou de atender suas preces. A religiosidade é outra característica que, na sua opinião, um gaúcho deve preservar.

 

Outro pedido do pecuarista aos céus é que jamais tenha de deixar o pago. Nem passa pela sua cabeça viver em outro lugar que não seja o Rio Grande do Sul:

 

– Tenho uma irmã que mora em Uberlândia, lá em Minas. Estive por lá visitando, mas não me senti bem. Não saí daqui nem quando era novo, não vai ser agora.

– O mais velho virou veterinário, mas também canta muito bem, e declama que é uma beleza – orgulha-se o pai.

 

Modesto acredita que o convívio no campo e com os animais é capaz de transformar qualquer guri de apartamento em uma espécie de Rodrigo Cambará – personagem corajoso e bonachão criado por Erico Verissimo na saga O Tempo e o Vento. Por isso, defende que as escolas incluam em suas lições algumas aulas sobre como encilhar um cavalo ou vestir uma bombacha.

Em Manoel Viana, na Fronteira Oeste, Modesto só parou de bailar no CTG porque caiu de um cavalo e “abriu a bacia”

GAÚCHO FIEL

Modesto cultiva a fé em Deus e

as tradições

EXPEDIENTE

Reportagem: Juliana Bublitz e Marcelo Gonzatto

Imagens: Fernando Gomes e Omar Freitas

Design e infografia: Thais Longaray e Thais Muller

Edição de vídeos: Luan Ott

Edição digital: Rodrigo Müzell

DOSSIÊ

GAÚCHO