TEXTO I CARLOS ANDRÉ MOREIRA
ilustrações i gILMAR FRAGA
COR I THAIS MULLER
VERSÃO DIGITAL I THAIS LONGARAY
Quando,
em 2010,
Paul veio ao Brasil pela primeira, eu tinha 20 anos, tinha recém terminado
um estágio
numa agência...
... e não tinha nem muito dinheiro nem muita vontade de ir.
Nessa
época, eu me ligava mais em Mika e David Gueta. Beatles, pra mim, parecia uma coisa que tinha roladO
na mesma
época que o
Beethoven.
Mas meu colega Luís já havia começado a doutrinação.
Ele é o maior fã de Beatles que eu conheci e, apesar de ter umas opiniões que pareciam querer chocar por ser do contra, foi me apresentando a história e a música dos caras. Anos depois, eu Já era fã.
Saí da
agência uns meses antes do show. Fiquei sabendo, depois, que o Luís não pôde ir porque
precisou viajar para um velório de parente. Imaginei que ele tinha ficado arrasado.
Sete anos depois, já convertido, havia economizado meses de salário e comprado o ingresso para o segundo show do Paul na cidade. Uns dias antes, encontrei Luís no bar que ele frequentava desde a época em que trabalhávamos juntos.
Fiz, então, uma pergunta que, para mim, já estava até respondida:
A resposta não poderia ter me
surpreendido
mais
Não, e nem vou comprar.
Não vou pagar uma fortuna para ver o show de um impostor.
O Paul de verdade já morreu!
Quem primeiro
percebeu a coisa
toda foi um ouvinte anônimo que ligou
para um radialista
de Detroit chamado
Russ Gibb, em 12 de outubro de 1969.
Abbey Road tinha saído havia menos de um mês. As pistas estavam todas ali.
Paul havia morrido, o grupo o substituíra por um sósia e estava fazendo seu enterro simbólico.
A própria disposição dos músicos na capa era um indício, a representação
de um funeral anglicano:
George, vestido
de jeans como um trabalhador, era o coveiro
Paul, de terno mas sem sapatos, era o cadáver
Ringo, todo de preto, era o agente funerário
Todo de branco, John representava Deus.
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A banda já
tinha mandado o mesmo recado
no Sgt. Pepper's, que é do ano da morte, 1967, mas ali, em meio a tanta referência visual, passou
despercebido.
HÁ canções COM mensagens cifradas. Strawberry Fields Forever, em 45 rpm, em vez de 33 1/3, traz John dizendo " Eu Enterrei Paul". Se a gente tocar o Álbum Branco ao contrário, entre I'm So Tired e Blackbird, do Álbum Branco, John diz: " Paul está morto. Sinto falta dele".
Paul is Dead!
Saí daquela conversa me sentindo perturbado. Não pelas informações,
que me pareciam uma piração, mas pela intensidade com que Luís parecia
acreditar nelas.
No dia do show, não estava preparado para encontrar Luís na fila, mas foi exatamente o que aconteceu.
Esse Luís
era um baita sacana...
Fim
Outro indício de que o cara que aparece na capa é um sósia é que ele segurava o cigarro na mão errada. Paul era canhoto.
Lá no fundo da foto tem um fusca. O fusca em inglês é um " beetle", a mesma palavra com que os Beatles se batizaram, um trocadilho com besouro. E na placa está lá: LMW, 28IF, uma sigla para "Linda McCartney viúva" e "28 SE", ou seja, ele teria 28 naquele ano se estivesse vivo.
Vocês não manjam nada.
Não teria nada disso que vocês escutam sem os Beatles, tá ouvindo? Nada!
E aí, ingresso na mão já pro Paul?
Como é que é?
Tu pirou?
Tem internet nesse teu
celular aí? Abre a imagem da capa
do Abbey Road. Tá tudo ali.
Pirei nada,
é uma das histórias mais conhecidas do rock.
Faz todo o sentido. De acordo com uma história que já circulava na imprensa inglesa, Paul morreu em 1967.
Os Beatles, nessa época, pararam de se apresentar ao vivo enquanto o sósia era escolhido e treinado para aprender as músicas e o gestual.
Mas, tchê, isso
não faz o menor sentido. É uma lenda urbana, que nem dizer que o homem não pousou na Lua ou que a Terra é plana. O Paul tá aí desde aquele tempo, tem carreira solo e tudo.
Ué, o que
te fez
mudar de
ideia?
Ah, sabe como é. Fiquei pensando
e cheguei a uma conclusão.
Com tudo o
que ele lançou depois, esse impostor pode não ser o Paul, mas é UM músico do cacete.