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orreu um imortal. Fábio Koff, mais do que ninguém em 114 anos de história, fez grudar esse adjetivo ao Grêmio e a si próprio. Porque o imortal do Grêmio e de Koff não é o imortal que não tem fim, pois tudo tem um fim e um começo debaixo do sol. Esse imortal é o de quem não desiste nunca.

 

Várias vezes, Fábio Koff poderia ter desistido e não desistiu. Já tinha participado do começo da gestão que retomou a hegemonia do Gauchão pelo Grêmio, em 1977. Para um mortal comum talvez fosse suficiente. Não para Koff, que foi em frente até conquistar o mundo em 1983.

 

Nada poderia ser maior, mas os colorados diziam que quem mandava no Rio Grande era o Inter, que havia vencido o Campeonato Gaúcho daquele ano. Renato Portaluppi pediu que Koff, que havia deixado a presidência, marcasse um Gre-Nal para a entrega das faixas de campeão. Era arriscado, havia a possibilidade de empanar o título. Mas Koff não se intimidou, propôs o Gre-Nal, o Inter topou e o Grêmio venceu por 4 a 2, com grande atuação de Renato.

 

Pronto. Era a consagração. Koff agora estava liberado para se retirar. Mas, nos anos 90, o Grêmio precisou dele outra vez, e outra vez ele se apresentou. Foi campeão gaúcho, da Copa do Brasil, do Brasileirão, da Recopa e da América.

 

Não havia mais nada de novo a conquistar, mas Koff não se recolheu. Nos anos seguintes, ajudou a organizar e renovar o futebol brasileiro na presidência do Clube dos 13. Finalmente, depois que o Clube dos 13 deixou de existir, o Brasil inteiro esperava que Koff largasse de vez o futebol. Ele está cansado, diziam todos, ele tem mais de 80 anos, ele está doente, ele já fez tudo o que tinha para fazer.

 

Mas ele voltou.

 

Elegeu-se outra vez presidente do Grêmio e, como último ato, trouxe Felipão de volta ao clube. No Gre-Nal do Brasileirão de 2014, houve a retribuição. O Grêmio goleou por 4 a 1 e, no vestiário, Felipão desabafou:

 

– Eu devia isso ao presidente.

 

Ao deixar a presidência, Koff elegeu seu sucessor: ninguém menos do que Romildo Bolzan. Prova de que, de certa forma, continua atuando no Grêmio. Como um verdadeiro imortal.

 

 

reportagem

Roberto Azambuja

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DAVID COIMBRA

O

 primeiro contato  com o Grêmio foi no final dos anos 1930. Em Garibaldi, Koff escutava os jogos do time em um rádio no Café Possobon, próximo à residência da família. Tinha seis anos quando ganhou a primeira camiseta do clube.

 

– Eu fugia, enganava todo mundo em casa, não importava a hora ou o dia. Queria escutar os jogos. O coração parecia querer saltar pela boca – contou a Zero Hora, em outubro de 2012, quando aceitou concorrer novamente a presidente.

 

Na mesma entrevista, elegeu o melhor Grêmio de sua vida com Danrlei; Arce, Airton, De León e Everaldo; Dinho, Gessy e Oswaldo; Renato, Jardel e Mário Sérgio. Na Capital, nos anos 1940, Koff sentou nos degraus de madeira da arquibancada da Baixada. O primeiro jogo que viu foi um trepidante Grêmio e Independiente-ARG, vencido por 3 a 2 pelos gaúchos. Advogado, depois juiz de Direito, Koff rodou por várias cidades do Interior, mas sempre manteve a paixão pelo clube.

 

1982-1983

No final de 1980, Koff concorreu a presidente e foi derrotado por Hélio Dourado, de quem já havia sido vice de futebol. Seria eleito em 1981, concorrendo contra Rafael Bandeira dos Santos.

Em 1982, a perda do titulo gaúcho para o Inter e do Brasileirão, para o Flamengo, rendeu-lhe críticas da torcida, mas o seu trabalho teve continuidade.

Uma inesperada derrota para a modesta Ferroviária, de Araraquara, interior paulista, em 1983, que eliminou o time do Brasileirão, gerou contestações traduzidas com a inscrição "Fora, Koff" nos muros do Olímpico. A resposta veio com a conquista da Libertadores e do Mundial no mesmo ano, fatos que o colocaram em definitivo na história do clube.

 

 

 

1993-1996

A segunda passagem de Koff pela presidência marcou um dos momentos futebolísticos mais fecundos do clube. Ao lado do técnico Luiz Felipe Scolari, a quem contratou na metade de 1993, o dirigente construiu o time que venceria competições como a Copa do Brasil (1994), Libertadores (1995) e Brasileirão (1996). Apesar do apelo da torcida e também dos conselheiros, que alteraram o estatuto do clube, permitindo que concorresse tantas vezes quanto desejasse, Koff optou por sair.

2013-2014

Depois de vencer Paulo Odone e Homero Bellini Júnior na eleição, Koff surpreendeu os gremistas ao afirmar, em entrevista a ZH em dezembro de 2012, que a Arena não pertencia ao Grêmio: "Vamos levar 20 anos pagando". Disputou a Libertadores nos dois anos e ficou pelo caminho nas oitavas de final. Mesmo com contratações de peso, ficou longe também do título brasileiro.

1983

Libertadores

 

Após passar sem dificuldades pela fase de grupos, o Grêmio enfrentou América de Cáli e Estudiantes no triangular semifinal. Venceu os argentinos e os colombianos no Olímpico - contra o América, Mazaropi defendeu um pênalti no Olímpico e evitou o empate. Depois da famosa Batalha de La Plata, chegaria à final contra o Peñarol. No Uruguai, 1 a 1. No Olímpico, vitória por 2 a 1. O gol do título foi marcado pelo atacante César.

 

1983

Mundial

 

 

O título da Libertadores propiciou a disputa do Mundial Interclubes em Tóquio, no Japão. No dia 11 de dezembro, o adversário era o Hamburgo, da Alemanha, do craque Félix Magath. O Grêmio tinha De León, Osvaldo, Paulo César Caju, Renato, Tarciso e Mário Sérgio. Dois gols do jovem Renato, um deles na prorrogação, levaram o clube ao maior título de sua história.

 

 

1993

Gauchão

 

Grêmio e Inter entraram somente na segunda fase, quando 16 times se dividiram em quatro grupos. Os dois melhores de cada chave passaram à etapa seguinte, um octagonal final. O tricolor gaúcho somou 23 pontos, cinco à frente do Inter, e levantou o troféu.

 

1994

Copa do Brasil

 

Em uma campanha invicta, o Grêmio de Luiz Felipe Scolari chegou ao segundo título da Copa do brasil ao bater o Ceará. No primeiro jogo, em Fortaleza, 0 a 0. Na volta, no Olímpico, um gol de cabeça do centroavante Nildo colocou mais uma faixa no peito de Koff.

 

1995

Gauchão

 

Com a disputa simultânea da Libertadores, Felipão lançou mão do famoso "banguzinho", equipe mista de titulares e reservas, no Gauchão. A fase era tão boa que o título estadual veio com um empate no Beira-Rio e uma vitória no Olímpico, contra o Inter, na final.

 

 

1995

Libertadores

 

Com um time sem craques, mas perfeitamente encaixado, Luiz Felipe Scolari levou o Grêmio ao bicampeonato da principal competição do continente. Contra o Atlético Nacional, da Colômbia, uma vitória por 3 a 1 no Olímpico e um empate em 1 a 1 em Medelín na final. Era o time de Adílson, Dinho, Paulo Nunes, Jardel e cia..

 

 

1996

Gauchão

 

Na final contra o Juventude, que deixou o Inter para trás na fase de grupos, duas vitórias tranquilas. No Alfredo Jaconi, com direito a dois gols de Jardel, 3 a 0. No Olímpico, 4 a 0. Jardel marcou mais três.

 

 

 

1996

Recopa Sul-Americana

 

Após vencer a Libertadores de 1995, o Grêmio disputou a Recopa contra o Independiente, da Argentina, campeão da Supercopa Libertadores - espécie de Sul-Americana da época). A partida única foi disputada em Kobe, no Japão. Com gols de Jardel, Carlos Miguel, Adílson e Paulo Nunes, vitória gremista por 4 a 1.

 

 

1996

Brasileirão

 

Depois de se classificar em sexto lugar geral na primeira fase, o Grêmio eliminou Palmeiras e Goiás nas quartas e na semifinal, respectivamente. A final foi contra a Portuguesa de Clemer, Zé Roberto, Gallo, Capitão e Rodrigo Fabri. Na primeira partida, derrota por 2 a 0 em São Paulo. No Olímpico, o gol salvador de Aílton no final do jogo devolveu o resultado. Como tinha campanha melhor, o tricolor gaúcho ficou com o bi brasileiro.

 

 

 

 

A

 entidade foi criada em 1987 porque a CBF se considerou inapta para organizar o Campeonato Brasileiro daquele ano, que se chamaria Copa União. Ao longo dos anos, o Clube dos 13 passou a defender os interesses comerciais e políticos de Grêmio, Inter, Atlético-MG, Cruzeiro, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e Bahia, principalmente os direitos de transmissão dos jogos. Fábio Koff chegou à presidência em 1996, após o segundo mandato no Grêmio, e se manteve no cargo até a extinção do grupo, em 2011. A derrocada teve início com a reeleição de Koff em 2010, quando venceu o ex-presidente do Flamengo, Kléber Leite, apoiado pela CBF. No ano seguinte, o Corinthians abriu uma série de desfiliações por desacordo com as tratativas para a venda das partidas para a televisão nos anos de 2012, 2013 e 2014, além de acusações de "desmandos administrativos" que teriam acumulado dívidas milionárias na entidade. Como efeito cascata, a maioria dos outros grandes clubes brasileiros passou também a negociar os direitos de transmissão diretamente com a Rede Globo. O racha no cenário nacional promoveu o fim do Clube dos 13 no final de 2011.

GREMISTA DESDE A INFÂNCIA

OS TRÊS MANDATOS

OS TÍTULOS

CLUBE DOS 13

O ADEUS A

FÁBIO KOFF