Como ajudar quem mais precisa

Dezenas de iniciativas conectam quem pode doar roupas, alimentos e tempo, por exemplo, às pessoas que necessitam de ajuda

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REPORTAGEM

Jéssica Rebeca Weber

EDIÇÃO

Eduardo Rosa
Rodrigo Müzell

DESIGN | ILUSTRAÇÃO

Edu Oliveira
Leonardo Azevedo

PROGRAMAÇÃO

Brunno Lorenzoni
Hermes Wiederkehr

Greicemar Clara do Nascimento, 52 anos, voltava do trabalho em uma manhã fria de maio quando um homem de 30 e poucos anos, sujo e mal vestido, lhe pediu alguma moeda. A enfermeira já morava há mais de duas décadas em Porto Alegre — obviamente, não era a primeira vez que via um morador de rua. Mas, pela primeira vez, decidiu fazer alguma coisa.

Com o marido, Adyr, e a filha, Michele, preparou uma panela de sopa para distribuir nas ruas ainda naquele mês, em 2015. Transformaram caixas de leite vazias em pratos, conseguiram doações de pães com contatos do Facebook e tiram algum dinheiro do bolso para os legumes. Repetiram a ação algumas vezes desde então e aprenderam uma lição em família, conta Greicemar:

- Não é tão difícil ajudar os outros. É só ter força de vontade.

A solidariedade que moveu a enfermeira ganha ainda mais relevância no inverno. À medida que baixam as marcas no termômetro, quem não tem condições de comprar um agasalho pesado ou a garantia de um prato de comida quente sofre mais. Felizmente, há dezenas de iniciativas para levar a essas pessoas alimentos, roupas, banho e outras doações e ações de carinho.

Na quarta reportagem da série 1 Ano + Alegre, selecionamos algumas dicas de como você pode ajudar quem mais precisa.

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PARA DOAR ROUPAS

Enquanto o vento gelado cortava a Rua Uruguai, três amigos amarravam um varal entre dois postes ao lado do corredor de ônibus. Na sequência, começaram a tirar calças, casacos, echarpes e meias de uma sacola, pendurando com prendedores extras para não saírem voando.

O varal que os empreendedores Fausto Vanin, Liliane Bueno e Luara Cándido instalaram no centro de Porto Alegre na tarde de 13 de junho foi o quinto desde o começo do frio na Região Metropolitana. A ideia é que o fio verde ligue quem precisa de agasalhos e quem tem peças para doar - qualquer um pode deixar, qualquer um pode levar.

É uma intervenção efêmera, eles sabem que talvez não resista nem ao fim do dia. Mas a ideia dos amigos é inspirar mais pessoas, para que a ação se replique pela cidade e espalhe calor.

- Acho que as vezes com pouco a gente consegue fazer grandes mudanças - diz Luara.

Mas para ajudar a aquecer o inverno de quem precisa, também dá para ajudar por vias tradicionais. Com pontos de coleta espalhados por todos os cantos da cidade, a Campanha do Agasalho do município tem o objetivo de arrecadar 255 mil peças de roupas até agosto e a do Estado visa arrecadar entre 340 mil e 350 mil peças.

A maior necessidade é de roupas infantis (especialmente de bebês) e masculinas, que têm menos doações. A secretária municipal de Desenvolvimento Social, Denise Russo, também pede doações de casacos mais pesados e acessórios como gorros, luvas e mantas, além de cobertores.

A campanha municipal segue até 23 de agosto, mas a secretária ressalta que o quanto antes as doações chegarem nos pontos de coleta, mais rápido vão ser encaminhados a entidades e famílias que necessitam. Outro apelo é pela limpeza das roupas antes da entrega e por peças em bom estado de conservação.

- É legal pensar que é um carinho - incentiva a secretária.

Não se esqueça:

De entregar uma peça em bom estado de conservação e limpa (o governo não faz a higienização)
Há mais necessidade de doação de roupas masculinas e infantis (especialmente para bebês)
Gorros, luvas, mantas e cobertores também são bem-vindos

Luara, Liliane e Fausto instalam varais para doação de roupas nas ruas. Foto: Tadeu Vilani

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PARA DOAR COMIDA

Roni Ferrari, 63 anos, assiste, preocupado, diminuírem as doações e aumentar a fila do sopão que ajudou a fundar há 18 anos na Restinga, no sul de Porto Alegre. Ele culpa a falta de emprego e conta que dói não poder encher o prato de alguém.

- Tu não ficarias na fila das 8h ao meio-dia se não precisasse - diz, ressaltando que o público é formado por famílias pobres e moradores de rua. - Meu sonho era poder acabar com isso aqui, sabendo que ninguém precisa mais do sopão. Mas não é o caso, e vamos continuar fazendo do jeito que dá.

Auxiliar os voluntários que fazem refeições para pessoas necessitadas, como é o caso da Associação Amigos Voluntários Casa da Sopa e de outros grupos espalhados pela cidade, é uma das formas de ajudar a diminuir a fome em Porto Alegre. Também é possível entregar diretamente em instituições que aceitam alimentos, como a Associação Emanuel, ou encaminhar ao Banco de Alimentos de Porto Alegre. O estoque do banco também reflete a crise, segundo o presidente Paulo Renê Bernhard:

- A solidariedade não diminuiu, mas a quantidade sim. As pessoas doam menos, mas aumentou a demanda, profundamente.

O banco é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, que atua como um gerenciador de desperdícios administrando três operações: coleta de doações, armazenamento e distribuição de alimentos para entidades beneficentes. Beneficia mais de 300 instituições de todos os bairros da capital gaúcha, doando 250 toneladas de alimentos todos os meses.

É possível fazer a entrega na sede do Banco de Alimentos de Porto Alegre (Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, Sarandi) ou participar das edições do Sábado Solidário, realizadas em parceria com as redes Asun, Big, Carrefour, Rissul e Walmart, sempre em um sábado do mês - os próximos são 7 de julho, 11 de agosto, 15 de setembro, 6 de outubro, 10 de novembro e 8 de dezembro. É possível saber quais supermercados participarão alguns dias antes pelo site.

Todos os tipos de alimentos não perecíveis são aceitos. Nesse momento, a maior necessidade é de feijão, açúcar, farinha de trigo, macarrão, biscoito, leite e óleo. A Central de Doações do Rio Grande do Sul, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), também aceita doações de alimentos não perecíveis.

Enfermeira faz sopão com a família para distribuir a moradores de rua. Foto: André Ávila

Associação Amigos Voluntários Casa da Sopa

Serve sopão às quartas-feiras pela manhã, na Restinga
Precisa de doações de arroz, massa, ossos de carne, farinha de milho, sal, açúcar, azeite, verduras e legumes
Estrada João Antônio da Silveira, 2.600, Restinga
Contato: (51) 98166-0808

PF das Ruas

Voluntários distribuem o PF das Ruas todos os sábados no Viaduto Imperatriz Leopoldina (na Avenida João Pessoa).

Aceitam doação de massa, arroz, feijão, azeite, sal, leite, achocolatado em pó, suco em pó, marmitex número 8 de alumínio e botijão de gás.

Informações com Rose: (51) 99847-2398

Onde entregar

Bairro Partenon: Rua Tobias Barreto 422 contato com Rose 998472398
Bairro Centro: Rua Sarmento Leite 288 ap 63 Contato com Claudia 98325-5744
Bairro Jardim Botanico: Rua Barão do Amazonas nº 809 (estética Blond Hair)
Bairro Auxiliadora: Rua Rua Dom Pedro II, 1576 / apto 302 Contato com Karen 9116-8064
Bairro Moinhos de Vento: Rua Quintino Bocaiúva 310 - Salão Maison Q, contato com Renata 98412-1132
Bairro Floresta: Associação Cristóvão Colombo, rua Câncio Gomes 786 (próximo da Cristóvão Colombo) contato com Fernando 98203-8254
Bairro Bom Fim: Osvaldo Aranha 1022 sala 1311 contato com Daiane 99168-4630
Bairro Petrópolis: Solar Café- Av. Neusa Goulart Brizola, 414

Sociedade Espírita Ramiro D'Ávila

Distribui sopão às terças, quartas e quintas, das 8h30min às 10h30min
Aceita doação de frango, legumes, azeite, açúcar, massa de tomate, linguiça, ovos, batata inglesa, farinha de trigo, farinha de milho e macarrão. Também aceitam escova de dentre, creme dental, barbeador, sabonete e cobertores
Fica na Avenida Getúlio Vargas, 497, bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Contato: (51) 3233-4934

Sopão da Solidariedade

O sopão virou carreteiro e massa com feijão, que são distribuídos a moradores de rua duas vezes por mês, no centro da Capital.
Precisa doações de feijão preto, massa parafuso, arroz, azeite, molho de tomate e gás de cozinha.
Fica na Avenida Professor Oscar Pereira, 7.291, bairro Cascata
Contato: (51) 99185-8773

Casa da Sopa - Ong Belém

Aceita aipim, batata inglesa, cenoura, cebola, pimentão, repolho, moranga, batata doce, milho, espinafre, couve, tempero verde, carne ou ossos. Aceita também alimentos não perecíveis, roupas, calçados, cobertores, travesseiro, lençol, entre outros.
Doações podem ser entregues na Rua Setenta e Seis, 19, bairro Santa Tereza. Precisam ser combinadas antes com Abigail, pelo telefone (51) 99189-8693.

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PARA DOAR TEMPO

Quando se fala em solidariedade, existe uma moeda ainda mais valiosa do que bens, comida ou dinheiro: o seu tempo. E a vantagem é que quanto mais você se entrega, mais você ganha.

- Ganha porque faz novas relações, conhece outras realidades, e é também um autodesenvolvimento. Disponibilizar tempo abre o coração e a mente - garante Maria Elena Pereira Johannpeter, fundadora e presidente da ONG Parceiros Voluntários.

Mas antes de se engajar em uma causa voluntariamente, é indicado avaliar quanto tempo você pode reservar para esse trabalho. Maria Elena explica que as pessoas que procuram a ONG passam primeiro por uma reunião, onde lhe é perguntado sobre isso. Para quem tem disponibilidade de se comprometer, é recomendado que disponibilize três horas por semana, sempre no mesmo dia e horário, para que a instituição auxiliada saiba como e quando contar com o voluntário.

Mas também existe a possibilidade de ser um voluntário pontual, que ajuda em atividades e eventos. Um exemplo é a realização de um galeto para arrecadar fundos para alguma organização: sempre se precisa de gente para organizar, vender ingressos, trabalhar no dia...

Decidido que você vai começar um voluntariado, é necessário pensar o que você gostaria de fazer. A dica de Maria Elena é que você procure algo que saiba fazer ou goste de fazer, seja por formação ou hobby. Ela relata que muitas donas de casa dispostas a colaborar acreditam que, por não terem formação acadêmica, não vão ser úteis - e se enganam demais.

- Daí eu pergunto: tu não sabes cozinhar bem? Não sabes costurar ou remendar uma roupa que esteja estragada? Cuidar de criança, trocar roupa, fralda, colocar comida na boca de um idoso? Olha quantas coisas a gente sabe fazer. Todos nós temos alguma coisa que alguém esteja procurando.

Habilidades mais procuradas pelas organizações

Contador de histórias
Recreação
Oficinas (teatro, música, artesanato)
Informática
Jardinagem e hortas

Fonte: Parceiros Voluntários

Todos nos temos alguma coisa que o tem alguém que esteja procurando.

Maria Elena Pereira Johannpeter, fundadora da Parceiros Voluntários

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PARA DOAR DINHEIRO

Porto Alegre tem dezenas de organizações que aceitam e precisam de doações para manter as portas abertas. Se você conseguiu juntar uma quantia e quer compartilhar com alguma instituição, é importante ter confiança de que vai chegar a quem mais precisa.

O ideal é conhecer pessoalmente a instituição, segundo sugere o presidente da Associação Rio-Grandense de Fundações, Institutos e Entidades do Terceiro Setor do RS (ARFRS), Clódis Xavier:

- Quando você consegue ir lá, participar, colaborar com o conhecimento, também conhece a credibilidade e a transparência da entidade que você está apoiando. Assim você consegue realmente ver a aplicação do recurso financeiro e colher indicadores.

Se isso não for possível, jogar o nome da instituição no Google, checar o que faz e a avaliação de internautas, visualizar onde ela fica no mapa e buscar algumas referências em sites de jornais é o básico a se fazer. O presidente da ARFRS também afirma que as instituições que tiveram seus projetos aprovados em fundos como o do Idoso ou da Criança e Adolescente, ou junto a algum ministério, já tende a ter alguma credibilidade, afinal passaram pela avaliação dos conselhos ou do poder público.

É por meio desses projetos que os cidadãos podem destinar uma parte do seu imposto de renda devido à Receita Federal. Todo contribuinte que declara pelo formulário completo pode destinar valores equivalente a até 6% do IR devido, escolhendo uma ou mais instituições de preferência (que se enquadram nas regras de doações com incentivos fiscais). Pessoas jurídicas podem doar até 1% para cada área, podendo alcançar 9% do imposto devido.

Conheça os projetos do fundo municipal da criança e do adolescente e dos idosos aqui.

VOCÊ TAMBÉM PODE DOAR

Artigos de higiene

No projeto Banho Solidário, uma estrutura com dois chuveiros montada em cima de um reboque oferece água quente para moradores de rua tomarem banho. Depois, eles recebem roupas limpas - e, desde maio, ganharam também a possibilidade de lavar suas roupas em uma lavanderia ambulante.

A iniciativa aceita doação de produtos de higiene pessoal. Principalmente pasta e escova de dente, aparelhos de barbear descartáveis, cortadores de unha e roupas masculinas - a maior parte dos moradores de rua são homens.

Os pontos de coleta são:

Salazar Barber Shop (Rua Duque de Caxias, 460, Centro)
Mon Secret Lingerie (Avenida Edgar Pires de Castro, 1.564, Abertas dos Morros)
Podologia Moinhos (Avenida 24 de Outubro, 591, Moinhos de Vento)
Avenida João Pessoa, 75, Centro

Materiais de construção

As sobras de materiais de obras de empresas da indústria da construção civil são matéria prima do Banco de Materiais de Construção, que mantém uma estrutura de armazenamento e logística para receber doações, classificá-las e distribuí-las para as instituições do terceiro setor, comunidades carentes e famílias que vivem em subabitações.

É possível doar materiais como:

Tintas
Portas e janelas
Vasos e pias
Telhas
Pisos e azuilejos
Materiais elétricos e hidráulicos
Canos plásticos e galvanizados
Vidros
Cimento e brita
Pontas de estoque
Entre outros
Coleta na Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais da Fiergs (Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, Sarandi).

Móveis

O Banco de Mobiliários faz os reparos necessários em móveis doados, classifica e os distribui de acordo com a demanda informada pelas instituições assistenciais, escolas e creches cadastradas. Mesa e armários para cozinha, cadeiras e mesas para refeitório, cadeiras e mesas de escritório e camas estão entre os itens mais demandados.

O doador pode entregar os móveis também na Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais da Fiergs (Avenida Francisco Silveira Bitencourt, 1.928, Sarandi).