FILHO NO CÁRCERE

Os pais de Leopoldo López, preso há 14 meses em Caracas por motivações políticas, vão ao encontro de Zero Hora no amplo escritório do filho, onde os funcionários trabalham freneticamente. A mãe cumprimenta a reportagem já com lágrimas nos olhos. O pai conta que conhece Porto Alegre. “Leozito” é o líder político há mais tempo preso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Morena de pele clara, ar determinado, Antonieta Mendoza de López aproveita a oportunidade de falar com um jornal brasileiro e afirma: a manifestação da presidente Dilma Rousseff, que criticou as prisões políticas na Venezuela, foi reconfortante.

– Ela mostrou que tem a sensibilidade de mãe. Senti que ela tem a dimensão do que passamos. É uma mulher e sabe do sofrimento que é estar presa por questões políticas – diz Antonieta.

Cabelo grisalho, traços muito parecidos com os do filho, Leopoldo López Gil usa camisa azul clara combinando com o blazer azul escuro. Demonstra sentimento de preocupação com a mulher, que mantém os olhos marejados ao falar sobre “Leozito” na prisão.

– Sentimos muita tristeza, mas bastante orgulho. O vazio é imenso, mas sabemos que ele tem uma missão importante – diz López Gil, que brinca, sorrindo: gosta de ver que o filho se tornou uma referência, deixando-o como “o Leopoldo López que é pai”.

Antonieta atalha:

– Apoiamos sua decisão de reivindicar um país melhor e, ao ser acusado, entregar-se para a Justiça injusta.

Pai e mãe se queixam da rotina do filho na prisão de Ramo Verde. Mas conseguem ver algo de positivo nisso.

– Ele estuda como se estivesse em uma faculdade na prisão, fazendo tudo por disciplinas. Estuda a Bíblia, filosofia, economia, história. Lê muito e incrementou sua fé, com a Bíblia sempre entre os livros. Está se fortalecendo bastante, preparando-se, aproveitando o momento adverso – conta López Gil.

A mãe se queixa da solidão do filho:

– Só lhe é permitida a visita do advogado e dos parentes diretos.

Em especial, os pais de Leopoldo se queixam dos momentos em que o filho ficou na solitária, durante seis meses, e do episódio em que lhe tiraram livros. Definem as medidas como tortura psicológica. E, ao falar do isolamento, referem-se ao dia em que foi proibida a visita dos ex-presidentes Andrés Pastrana (Colômbia), Sebastián Piñera (Chile) e Felipe Calderón (México).

– Como civil, deveriam ser permitidas visitas a Leopoldo, e ele deveria ter o direito de ser julgado em liberdade. A situação mostra que, na Venezuela, vivemos situação de justiça injusta. Às quintas-feiras e nos fins de semana costumamos ir vê-lo, e nos reconforta que esteja bem, confiante no futuro e se preparando – diz Antonieta.

O revezamento nas visitas se dá entre os pais de Leopoldo, a mulher, Lilian Tintori, e a irmã Diana. Pelo menos um deles sempre está em Caracas, de olho em Ramo Verde. Nas visitas, levam o casal de filhos de Leopoldo.

Antonieta teme pela segurança do filho. Sente-se melhor quando o visita e constata a tenacidade com que ele enfrenta as adversidades.

– A fortaleza dele nos ajuda a seguir adiante – diz a mãe.

Entre outros temas que Leopoldo estuda está o do petróleo. López Gil diz que o problema, no entender dele e do filho, não é a vocação petrolífera do país, que tende à dependência. A questão é ter boa gestão sobre essa riqueza.

O

Preso há 14 meses, líder oposicionista é cultuado pelos pais em mural

Juan Ceballos

O pai e a mãe do político que assumiu a face mais radical no enfrentamento ao chavismo são gentis. Gravaram lado a lado um depoimento a ZH. Tiram fotos em meio a imagens do filho preso e a frases de defensores dos direitos humanos, como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

O advogado de Leopoldo, Juan Ceballos, chama a atenção para o aumento da frequência com que ocorrem as audiências judiciais. Como haverá eleição parlamentar no segundo semestre, ele desconfia de que o governo queira condenar logo o opositor, para evitar que, eleito deputado, consiga imunidade parlamentar. É um jogo de xadrez, e Ceballos compara Maduro a Chávez.

– Chávez o perseguia e procurava mantê-lo ocupado. Maduro o prendeu. A situação parece requerer um cuidado especial neste governo – diz ele, também se queixando da solidão do cliente, que, na prisão, vê apenas poucos colegas de infortúnio, como o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, preso desde 19 de fevereiro sob a acusação de conspirar contra o governo.

Outro preso político, o ativista Gilberto Sojo, está no cárcere desde 26 de novembro. Sua mulher, Carolina González, conta que, naquele dia, ele, ela e a filha de três anos foram a uma suposta empresa de telefonia para tirar um aparelho no nome do marido. Funcionários de inteligência se fizeram passar por técnicos, e ele foi preso.

– Está forte, mas muito sentimental.

Sojo tem outros filhos, de 21 e 26 anos. A menininha Gildreilys ainda não foi vê-lo na prisão. Nos próximos dias, deve ir com Carolina até a cárcere do Serviço de Inteligência Bolivariano (Serbin). Deparará com uma das faces mais cruéis da realidade venezuelana.

– Demorei para contar-lhe que o pai estava preso. Dizia que ele havia viajado. Mas não tive mais como esconder – conta Carolina, voz embargada.

Cinco presos políticos mais notórios

Leopoldo López

Líder do partido Vontade Popular, está preso desde 18 de fevereiro de 2014, acusado de instigar manifestações contra o governo em fevereiro do ano passado.

Antonio Ledezma

Prefeito da região metropolitana de Caracas, foi preso em 19 de fevereiro deste ano, acusado de tramar golpe contra Maduro.

Daniel Ceballos

Ex-prefeito de San Cristóbal, foi preso em março de 2014 e destituído do cargo. Condenado por desacato e conspiração.

Enzo Scarano

Ex-prefeito de San Diego, preso em março passado, foi condenado por não acatar ordem para desimpedir vias públicas nas manifestações de fevereiro de 2014. Está em prisão domiciliar por motivos de saúde.

Gilberto Sojo

Preso pelo serviço de inteligência, o Serbin, em 26 de novembro. Agentes se fizeram de vendedores de celular e lhe telefonaram pedindo que retirasse um aparelho dois dias depois. Era uma armadilha para prendê-lo.

 
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