A parte mais complexa de colocar humanos em Marte não é depois que eles já deixaram a órbita terrestre rumo ao desconhecido. Muito antes disso, cientistas trabalham para prever tudo. Para cada passo da missão, um estudo científico. Cada etapa, cada refeição, cada curva é pensada antes. A Nasa quer ir, mas também quer voltar.

Os primeiros humanos que colocarão os pés em Marte já estão entre nós. Mas quem? Esta é uma das maiores dúvidas até o momento. Grande parte dos estudos buscam justamente o perfil correto para a missão, já que os riscos não dizem respeito apenas ao corpo, mas à mente.

Até agora, ninguém ficou mais de 15 meses em baixa gravidade. Quem participar da missão terá de passar o dobro desse tempo.

Acha que é a sua praia? Veja se tem o perfil esperado pelo professor David Dinges, pesquisador da Nasa:

Muitos astronautas orgulham-se de caçar, pescar, esquiar, achando que precisam ser muito ativos para uma missão. No caso de Marte, é o contrário. Quando eu vejo alguém dizer que coleciona selos, lê muito e adora ver filmes, eu penso: esse, sim, pode ser bom para um confinamento.

MONITORAMENTO CONSTANTE

Preocupada com a mente, a Nasa está desenvolvendo um software de reconhecimento facial que deve monitorar os olhos e os lábios dos astronautas para identificar suas condições emocionais – se estão cansados, tristes ou concentrados, por exemplo.

Os lábios e os olhos são os principais focos de atenção, já que são muito expressivos em humanos. O software não identifica apenas emoções, mas também o nível de concentração.

A medida mais confiável é a velocidade do piscar de olhos. Ela pode diminuir até 300 milisegundos quando estamos cansados. Isso indicaria, por exemplo, se a pessoa está prestes a ter um lapso de atenção que a impeça de realizar determinada tarefa.

É preciso um bom clima entre os astronautas, sob pena de comprometer não só o trabalho de quem está debilitado, mas de toda a missão.

Para entender os efeitos de longa duração da baixa gravidade no corpo humano, dois voluntários passaram 70 dias deitados, monitorados da cabeça aos pés. A experiência fez parte de um estudo sobre a ausência de peso. Na horizontal, com a cabeça inclinada para baixo em 6 graus - a melhor simulação da gravidade zero que podemos testar aqui na Terra - eles tiveram que praticar exercícios em esteiras verticais, fazer necessidades e simular atividades. Assim, os cientistas entendem melhor o que acontece com o corpo a longo prazo quando exposto a essas condições.

Em outro teste feito com seis candidatos russos isolados durante 520 dias, quatro deles tiveram problemas como depressão, insônia e isolamento social.

Há um grande desafio na preparação física dos astronautas. No espaço, existe muito risco de perda de massas óssea e muscular. Pesquisadores estudam a melhor combinação de exercícios para fortalecer os astronautas e, até mesmo, para estimular seu crescimento na ausência de gravidade. Um dos hormônios que tem se mostrado eficiente é a testosterona. Mas é preciso vencer os desafios de como aplicá-lo em mulheres sem dar a elas características masculinas. Isso seria especialmente necessário na chegada, em que os tripulantes precisam sair da nave sozinhos e ainda dar o "primeiro passo para um homem"...

Crédito: NSBRI, Nasa, Divulgação

Assista ao astronauta Mike Hopkins malhando no espaço: