"Me apelidaram de Gaguinho. O colégio sabia do meu problema, mas passava por cima"

 

Pedro Maffei Frasca,

 21 anos, universitário

"Agagueira apareceu por volta dos 11, 12 anos. Era forte: de cinco palavras, eu travava em três, quatro. No colégio, me apelidaram de Gaguinho, me imitavam, faziam sons. Apresentar um trabalho na frente da turma era sempre muito ruim, um parto. Todo mundo ria, e eu via que as pessoas estavam rindo. Comecei a ficar com medo de falar porque apontavam, comentavam, 'olha o gago', falavam que eu tinha problema. Eu fugia, às vezes não fazia algumas atividades por medo. Nunca falava para a professora que era por isso, tinha medo de que a história crescesse muito. Dava qualquer desculpa para não ir. Mentia que estava mal, doente, com a perna machucada. Perdia a nota, tinha que correr mais depois para compensar, pegava recuperação.

Até a 2ª, 3ª série, eu era mais participativo, perguntava quando tinha dúvidas. Depois fiquei retraído, quietinho. Tirava as dúvidas outra hora, não na frente dos colegas. Às vezes procurava o professor depois, às vezes não. Isso me isolou por um tempo. As psicólogas e a diretora falavam que era algo emocional. É no cérebro, algo trava, e a gente trava junto. Não tem cura. O colégio sabia do meu problema, mas passava por cima, como se fosse só mais um. Troquei de colégio. Nas primeiras aulas, tinha que levantar, me apresentar. E travava.

Aquele período foi horrível, eu não tinha armas para usar contra isso. Hoje tenho. Fiz tratamento com fonoaudióloga, psicólogo, psiquiatra. Em dois, três anos, estava bem melhor. Hoje estou bem menos gago, nem se compara. Falar em público até continua sendo um problema, mas não tão grande. Não é o que mais gosto de fazer, ainda tenho medo, receio, mas não é algo pavoroso, do qual tenha que fugir. Se eu estiver travando, azar. Você vai ouvir igual, só vou sair daqui quando terminar. Sou humano. Agora não dá mais para faltar aula (risos). Sou brincalhão, consigo dar uma certa leveza a isso. Não é a minha pior coisa. Isso tudo me ensinou a ser cada vez mais forte para enfrentar as dificuldades. Tenho problemas, mas outras pessoas também têm. Todo mundo tem."