O dia da final

Não foi um jogo de futebol. Mas um evento que fez Porto Alegre estacionar. Por uma semana, a final de 1975 foi manchete de Zero Hora. Mais, as notícias relacionadas ao jogo preenchiam as páginas de Esporte e a nobre central do jornal. Nem poderia ser diferente. Nunca a Capital havia recebido jogo desse porte.

A Esquina Democrática, coração da cidade desde sempre, fervilhava na semana do clássico. Os ingressos colocados à venda na loja do Inter, na subida da Borges de Medeiros, faziam aumentar o burburinho. Colorados faziam filas e esgotavam rápido os lotes de bilhetes. Os cambistas reclamavam sem pudor. Acusavam o Inter de esconder ingresso de cadeira. Mas ainda assim davam jeito e concentravam os de Geral, como era chamada a arquibancada inferior. No Beira-Rio, 2 mil pessoas dormiram em frente ao estádio à espera da abertura da bilheteria.

Desde a manhã o Beira-Rio foi tomado pelos colorados

Na sexta-feira, ZH trazia em sua manchete: “Ingressos vão se esgotar hoje”.  Os hotéis estavam com todos os quartos reservados e a previsão de renda e público apontava novo recorde em jogo de futebol no Estado: CR$ 1,8 milhão no caixa e 80 mil pessoas no estádio.

A Brigada Militar montou operação com 1.360 homens no Beira-Rio e arredores. Mesmo que a frota de carros da cidade fosse dimnuta se comparada à de hoje, a BM implorava que a ida ao estádio no domingo fosse a pé ou nos ônibus Monobloco da Carris que partiam da Marechal Floriano, com passagem a CR$ 1. Com o trânsito escoado para aliviar a região do Menino Deus, a récem-inaugurada Perimetral passava pelo seu primeiro teste.

Arquibancadas cheias em um dia de calor no Gigante

Como alternativa de transporte, foram colocados barcos que saíam do Cais da Mauá. Em minutos, torcedores desciam no trapiche no fundo do estádio (onde hoje é o CT do Inter). Autoridades e jornalistas, como as equipes dos jornais Correio do Povo, Folha da Manhã  e Folha da Tarde chegaram ao jogo pelo Guaíba. Naquela época, o aterro se limitava ao estádio. A partir de onde é a Rua B, já era rio.

Essa vizinhança amenizava o calor daquele 14 de dezembro. Desde as 7h, imensas filas se formaram ao redor do estádio à espera da abertura dos portões, ao meio-dia. Colorados chegavam de todos os cantos do Estado com suas bandeiras. Quem ficou de fora, viu o jogo pela TV. Um pool formado pelas TVs Gaúcha, Globo, Difusora e Tupi inovou e usou pela primeira vez cinco câmeras em uma partida. Ninguém poderia perder um detalhe de um domingo histórico para o Rio Grande.

Torcedores chegam de barco para assistir ao jogo