CINEMA
MÚSICAS
SÉRIE
QUIZ
ENQUETE
21 clássicos do
SÉCULO
21
Novos ícones da cultura pop
Quais são os filmes, as músicas e as séries lançadas
desde a virada dos anos 2000 que entraram
no imaginário da cultura pop?
O SENHOR
DOS ANÉIS
Os livros de J.R.R. Tolkien foram publicados entre 1954 e 55, mas foram as adaptações para o cinema que catapultaram sua popularidade. A trilogia assinada pelo diretor Peter Jackson demarcou a entrada de Hollywood em uma nova era, de supervalorização dos universos fantásticos com suas criaturas inumanas. Na história recente do cinema, raros foram os filmes tão bem-sucedidos de público e crítica – o terceiro longa da série, O Retorno do Rei, faturou 11 Oscar, um recorde histórico na maior premiação da indústria.
O neozelandês Peter Jackson não tem uma carreira exatamente regular. Mas, ao adaptar o universo de Tolkien (depois, ele faria a série O Hobbit), escreveu seu nome na história do cinema e da cultura pop. É um visionário que leva a tecnologia além de seus limites conhecidos para criar universos ficcionais que vão ao encontro dos anseios do grande público – um artista e entertainer do time de Spielberg, George Lucas e James Cameron. Tem 53 anos e hoje atua não apenas como diretor e roteirista, mas também como produtor.
"O mágico Peter Jackson usa cada cena para nos mostrar o significado de magnitude. Nunca um cineasta mirou tão alto – com tanto êxito"
Joe Morgenstern,
no Wall Street Journal
CIDADE
DE DEUS
Nenhum outro longa brasileiro fez tanto barulho no Exterior quanto Cidade de Deus. Foi o grande projeto da chamada onda dos "filmes de favela", que apresentaram ao mundo um país marcado por desigualdade social e violência exacerbada, que para muitas crianças só oferece uma perspectiva: a do tráfico de drogas. Fernando Meirelles soube captar esse universo e moldá-lo em imagens estilizadas, que até encontraram alguma resistência da crítica no início, mas que marcaram para sempre a cultura pop.
"Cidade de Deus nos dá um
soco no estômago. Nos conduz a uma experiência visceral por uma espiral de violência protagonizada por crianças que não encontram outra forma de vida que não a do crime"
David Rooney, na Variety
Cooptado por Hollywood, Fernando Meirelles dirigiu filmes como O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira (2008). Antes de Cidade de Deus, realizara Domésticas (2001) e, depois, séries de TV como Felizes para Sempre? (2015). Estudou arquitetura, trabalhou com publicidade e é um dos fundadores da 02 Filmes, uma das maiores produtoras audiovisuais do Brasil. Tem 59 anos e, dizendo-se decepcionado com a falta de interesse do público pelo cinema de autor, tem se dedicado sobretudo a trabalhos como produtor.
ENCONTROS E DESENCONTROS
Foi o filme que lançou Scarlett Johansson, a mais fulgurante estrela de Hollywood no novo século. Mais do que isso, a história do encontro de dois norte-americanos entediados em Tóquio (o parceiro de elenco da musa é o cultuado Bill Murray) é um ensaio sobre solidão nas metrópoles contemporêneas. Sua construção narrativa pontuada por silêncios, elipses e músicas do lado B do rock dos anos 1990 não foi exatamente uma unanimidade – mas angariou fãs devotados como poucos outros filmes neste século 21.
"Belo e delicado estudo de um romance impossível. Nada é imposto, exagerado, o que permite uma descoberta lenta e prazerosa dos personagens e das situações que eles vivem"
Edward Guthmann, no San Francisco Chronicle
Filha de Francis Ford Coppola, Sofia tem estilo definido: gosta de abordar o mundo das celebridades e a sensação de vazio que perpassa suas vidas - e a de tantos outros homens e mulheres contemporâneos. Além de Encontros e Desencontros, também foi muito bem com Um Lugar Qualquer (2010), outro longa sobre a relação de um sujeito maduro com uma jovem garota. Maria Antonieta (2006) e Bling Ring (2013) têm um quê de controvérsia - outra marca autoral desta nova-iorquina de 43 anos de idade.
Françóis Mori
AMOR À
FLOR DA PELE
Um dos filmes mais imitados nos últimos tempos, Amor à Flor da Pele é uma obra-prima global, filmada entre China, Tailândia e Camboja, com Nat King Cole cantando em espanhol na trilha e a dupla Tony Leung e Maggie Cheung vivendo uma das histórias de amor não realizado mais tristemente bonitas da história do cinema. Eles interpretam um jornalista e uma secretária que vivem no mesmo prédio, na Hong Kong dos anos 1960, e descobrem que seus parceiros mantêm um caso.
"É um filme de tirar o fôlego de tão belo, com um espírito romântico inocente que parecia ter desaparecido para sempre do cinema"
A.O. Scott,
no New York Times
Cineasta de Hong Kong nascido em Shangai, Wong Kar Wai já realizara antes outros ensaios preciosos sobre o amor, como Felizes Juntos (1997) e Amores Expressos (1994), ambos com o mesmo Tony Leung. Voltaria ao assunto em 2046 - Os Segredos do Amor (2004). Mas também se arriscou em outros gêneros (vide O Grande Mestre, de 2014), sempre com temas como solidão e transitoriedade e imagens carregadas pela ação de filtros e das cores exuberantes. Tem 58 anos. É um dos grandes estetas do cinema atual.
CIDADE
DOS SONHOS
O trabalho de desconstrução da narrativa tradicional desenvolvido por David Lynch atingiu o ápice neste longa esquisitão intitulado originalmente Mulholland Drive (em referência à estrada que atravessa Hollywood Hills). É lá que a trama começa, com um acidente de carro que envolve uma mulher (Laura Harring). Ela perde a memória e rasteja até um condomínio onde encontra uma aspirante a atriz (Naomi Watts). A relação entre as duas é enigmática - e tem a ver com a ideia de sonhos citada no título brasileiro.
"O que se vê na tela até pode não fazer sentido da forma convencional, mas o poder das imagens, e seu significado em um universo onírico, é inesquecível"
Kenneth Turan,
no Los Angeles Times
David Lynch tem 69 anos e é o responsável por diversos grandes filmes, como Veludo Azul (1986) e Coração Selvagem (1990), além de ter criado, junto a Mark Frost, a histórica série de TV Twin Peaks (1990-91). Já foi descrito como "o primeiro surrealista norte-americano", mas também assina ótimos longas mais convencionais, a exemplo de O Homem Elefante (1980) e Uma História Real (1999). Muito em função de Cidade dos Sonhos, é frequente ver seu nome encabeçando listas dos melhores cineastas do mundo.
OLDBOY
Por trás da violência gráfica que fascinou plateias em todo o mundo, Oldboy é um ensaio poderoso sobre autoconhecimento. Sobre descobrir a si mesmo - e o seu lugar no mundo. Esse caráter existencialista dá transcendência a este filme integrante da Trilogia da Vingança de Chan-wook (composta por Mr. Vingança e Lady Vingança), o mais significativo dos projetos recentes a apostar no fetiche da violência. A trama: após ficar preso por 15 anos, homem (Choi Min-sik) é solto para caçar o responsável pelo seu sequestro.
"Shakespereano em sua abordagem da violência, Oldboy evoca imagens de pesadelos e isolamento físico tão impactantes quanto as de Beckett e Dostoiévski"
Kenneth Turan,
no Los Angeles Times
Além da celebrada Trilogia da Vingança, Park Chan-wook é autor de outros filmes lançados no Brasil - Zona de Risco (2000) e Sede de Sangue (2009), além da coprodução EUA/Grã-Bretanha Segredos de Sangue (2013), seu primeiro longa falado em inglês. O cineasta sul-coreano de 51 anos manipula a linguagem audiovisual com enorme habilidade, para construir narrativas intrincadas e imagens impactantes, que se completam em sequências que parecem se fixar na retina de quem as vê.
Jair Bertolucci
TROPA
DE ELITE
Nunca um filme brasileiro foi tão pirateado como Tropa de Elite. Nunca um filme levou tanta gente aos cinemas como Tropa de Elite 2. Este grande painel que retrata a falência do sistema de segurança entrou no imaginário popular a partir de bordões e músicas de enorme apelo pop e um personagem histórico: Capitão Nascimento (Wagner Moura). No primeiro filme, ele se revela em seu ímpeto violento idolatrado pelos mais conservadores. No segundo, é o próprio sistema que é escancarado em suas mais absurdas contradições.
"Tropa 2 pode ser um filmaço, mas sua vocação maior é ser um comentário ácido sobre o país, visto por um dos seus ângulos mais frágeis, a segurança pública"
Luiz Zanin Oricchio,
em O Estado de S. Paulo
O carioca José Padilha,
47 anos, é um estudioso - talvez mais de questões sociais do que da linguagem do cinema. Em sua palestra sobre violência no Fronteiras do Pensamento, por exemplo, revelou profundo domínio do tema. Seus documentários sobre desassistência (Ônibus 174) e a fome no Nordeste (Garapa) são potentes. Já o mergulho na mitologia de RoboCop (2014), que ele fez depois do sucesso de Tropa de Elite, não obteve lá muito sucesso. Também atua como produtor (de filmes como Estamira e Paraísos Artificiais).
Sony/MGM
Fotos Alexandre Lima
IS THIS IT
É deste material que as
obras lendárias são feitas"
Joe Levy, na Rolling Stone
norte-americana.
Não foi a primeira, mas talvez tenha sido a última ocasião em que se referiu, em peso, a um disco como "a salvação do rock" - e a assertiva fazia algum sentido. Ainda que com reminiscências às décadas passadas, Is This It parecia pavimentar um caminho novo, incorporando a simplicidade do melhor rock 'n' roll, com referências cultuadas (Stooges, Velvet Underground) porém repaginadas, que lhe davam a sensação de frescor. Justificadamente, encabeça quase todas as listas dos melhores da década no pop rock universal.
Filhos de grandes músicos, papas do universo da moda e socialites, os integrantes da banda também se tornaram referências de comportamento - mas bem diferentes daquelas estabelecidas pelos mais célebres rebeldes do rock. Julian Casablancas, 36 anos, e seus parceiros são os responsáveis diretos por elevar o chamado indie aos mais altos índices de popularidade. Depois, Casablancas fez sucesso com o álbum solo Phrazes for the Young (2009), e a banda ainda lançou discos de grande repercussão, como Room on Fire (2003).
Sony/BMG
Ricardo Lage
NÃO EXISTE AMOR EM SP
"Criolo deu destaque ao rap brasileiro sem fazer um disco de rap, no sentido mais estrito do gênero. Não Existe Amor em SP é quase um trip-hop. Pode parecer um paradoxo, mas esse é um mérito. É um artista completo"
no especial Melhores de 2011
da Rolling Stone brasileira.
Criolo era Criolo Doido, rapper na ativa desde o fim dos anos 1980. Mas virou clássico ao abreviar seu nome e lançar o disco Nó na Orelha, tornando-se ícone maior de um movimento paulistano de hip hop mais light e menos combativo do que aquele encabeçado pelos Racionais MCs nos anos 1990. Não Existe Amor em SP é um dos hits do álbum, o mais simbólico de seus propósitos, aquele que melhor sintetiza sua salada musical e sua representatividade a partir da exaltação dos espaços públicos comuns a todos (ainda que por via torta).
Criolo divide o protagonismo da cena que trouxe o rap para a pauta da cultura pop nacional com Emicida. MPB, funk, soul, blues e ritmos eletrônicos também estão no seu horizonte, mas são as letras que o diferenciam - e que o levaram ao status de cult e a parcerias, por exemplo, com Caetano Veloso. Tem 39 anos e apenas três discos lançados - Ainda Há Tempo (2006) e Convoque Seu Buda (2014), além do citado Nó na Orelha. A amostragem é pequena, mas suficiente para estabelecê-lo como um nome de destaque na música popular brasileira.
Daryan Dornelles
Fotos Caroline Bittencourt
BLOCO DO
EU SOZINHO
"Não é exagero dizer que o Los Hermanos é a banda brasileira mais inventiva e talentosa desde os Mutantes"
Jonas Lopes,
no site Scream & Yell
Entre o estouro com a música Ana Júlia (1999) e o lançamento do cultuado Ventura (2003), o Los Hermanos cativou uma multidão de fãs devotos com este disco melancólico, meio MPB, meio samba, mistura de ska e hardcore, indie rock e marchinhas de Carnaval, recheado de letras profundas com referências eruditas e populares. Sentimental, A Flor e Mais uma Canção embalaram uma geração inteira, mas o clássico instantâneo, música-símbolo da banda, foi a faixa de abertura Todo Carnaval Tem seu Fim.
Marcelo Camelo, 37 anos, e Rodrigo Amarante, 38, as duas cabeças pensantes da banda, chegaram a ser comparados à dupla Chico Buarque e Caetano Veloso (respectivamente), em exageros típicos desta nossa época - e que ajudam a dimensionar o quanto a banda mobiliza admiradores apaixonados. Ambos arrastaram parte desse séquito para seus novos projetos, mas nada que se compare ao que foi alcançado pelo Los Hermanos, verdadeira religião para as primeiras gerações da era do consumo digital de cultura.
Maurício Valadares
Fotos Diego Vara
SEVEN
NATION ARMY
"Quando Seven Nation Army foi lançada, a música pop mudou para sempre. Pode não ser a melhor canção do White Stripes, mas foi a que os alçou à aclamação"
Dan Martin, no NME.
Este single do álbum Elephant tem um dos riffs de guitarra mais populares de seu tempo – um dos últimos do rock, segundo os apocalípticos amantes do gênero. Sua melodia de fácil absorção, pop na essência, ecoa em praças de esporte em todo o mundo, além de inspirar versões adaptadas para protestos políticos. São raras as listas de grandes músicas deste século sem Seven Nation Army - título que evoca a infância de seu autor, Jack White: era assim que o pequeno Jack se referia ao The Salvation Army, ou o Exército da Salvação.
O White Stripes era formado pelo casal Meg e Jack White, mas é ele o cara por trás do riff de Seven Nation Army. Além de integrar a dupla, Jack ainda fundou a Third Man Records, apareceu em filmes como A Todo Volume (2008), desenvolveu um trabalho relevante como produtor, fundou outras bandas (The Dead Weather, Raconteurs) e, em carreira solo, lançou discos como Lazaretto (2014), que acumulou a maior vendagem no formato vinil em pelo menos duas décadas. Um dos grandes nomes do rock atual. Tem 39 anos.
Maurício Valadares
À PROCURA DA BATIDA PERFEITA
"Quando lançou o disco, D2 era 'apenas' o cara do Planet Hemp. Surpreendeu. Fez aquele que já é considerado o disco mais renovador da música brasileira recente"
Bruno Yutaka Sato,
na Folha de S. Paulo.
Com a banda Planet Hemp, surgida nos anos 1990, Marcelo D2 misurava música brasileira com ska e hardcore. Neste disco solo que marca o auge de sua maturidade artística, ele fechou o foco no samba e no rap. A influência de Afrika Bambaataa, precursor do hip hop, vem desde o título. A incorporação de gírias, referências nacionais e instrumentos como o cavaquinho garantem a brasilidade do álbum, consagrado com prêmios que vieram, inclusive, da Academia Brasileira de Letras.
Defendendo bandeiras como a legalização da maconha, o Planet Hemp já registrava letras pessoais e em primeira pessoa de D2. Em carreira solo, o músico de 47 anos tornou essa característica ainda mais presente – entre os hits de À Procura da Batida Perfeita está Profissão MC, e entre seus outros discos estão Eu Tiro É Onda (1998) e Nada Pode me Parar (2013). Mas sua atuação além da banda tem caráter mais plural. E apelo pop certeiro – sintetizado em versos simples como os do hit Qual É ("Essa marra que tu tem, neguinho, qual é?", lembra?).
Washington Possato
Juliano Cavaleiro
BACK
TO BLACK
"Back to Black é um impressionante álbum de soul que absorve os sons de Motown e dos grupos femininos da década de 1960 e cospe-os de volta com brio, glamour e um toque contemporâneo"
Jude Rogers, na revista New Statesman
Amy Winehouse ditou moda, cativou seguidoras, enfim, tornou-se um ícone geracional. Mas só chegou lá porque cantava as dores do amor com uma intensidade incomum. Sua breve carreira está quase que inteiramente resumida neste disco, espécie de contraponto da soul music à avassaladora moda rythm & blues que tomou conta do pop em seu tempo. Como o título indica, Back to Black é pura black music dos anos 1950 – repaginada com a visceralidade de Amy e uma produção impecável de Mark Ronson e Salaam Remi.
A mais recente integrante do chamado Clube dos 27, que reúne ícones do universo pop mortos tragicamente aos 27 anos (Kurt Cobain, Janis Joplin, Jimi Hendrix), Amy Winehouse chegou a ser comparada à Sarah Vaughan, mas, em vida, fez lembrar diversas divas do jazz imperfeitas do ponto de vista técnico, mas intensas, profundas e essencialmente doloridas em suas performances ao microfone. Na carona dela, vieram várias outras cantoras – nenhuma digna de ser chamada de um novo clássico da música.
THE
SUBURBS
"A banda parece ter entendido que era a hora de fazer um disco acessível para as massas e, ao mesmo tempo, com grandes ambições artísticas. Em outras palavras, um disco perfeito"
Emily Mackay, da NME
Disco do ano no Grammy, número 1 de vendas em países como EUA e Inglaterra, o terceiro álbum de estúdio do Arcade Fire é um clássico instantâneo. Ainda mais do que o também consagrado Funeral (2004), seu disco de estreia, eleva o indie rock a um raríssimo patamar de sofisticação. Fã da banda, o cineasta Spike Jonze fez o curta The Suburbs com músicas do disco e uma trama sobre meninos de uma região de periferia dos EUA. Poucos álbuns são tão "cinematográficos" (com letras recheadas de imagens e histórias) quanto este.
O casal formado pelo norte-americano Win Butler, 34 anos, e pela canadense Régine Chassagne, 37, ele neto de jazzistas, ela com ascendentes haitianos, constitui a alma desta quase "big band" formada em Montreal. Além das guitarras e da cozinha roqueira de baixo e bateria, usam piano, acordeom, violinos, violoncelos, xilofones e harpa em arranjos complexos para letras filosóficas sobre o dia a dia da juventude e sobre instituições como a família. Muitas vezes soando dançante – com uma potência que o indie rock raramente alcança.
Julio Cordeiro
GET
LUCKY
"O Daft Punk está afirmando: algo especial na música ficou para trás. Se as pessoas ainda usassem aqueles velhos aparelhos potentes de som, este registro gravado analógica e meticulosamente seria ideal para testá-los"
Mark Richardson,
na revista Pitchfork.
A dupla francesa Daft Punk fez bons discos e apresentou boas canções antes, mas nunca "se deu bem" da forma como ocorreu com Get Lucky ("dar-se bem", inclusive no sentido sexual, é uma tradução possível para a expressão). Poucas melodias ganharam a cultura pop com a força desta música que incorpora a estética disco dos anos 1970 e se mostrou irresistível nas pistas de dança de diversos países (contam-se às dezenas aqueles que viram o single de Get Lucky figurar no topo das paradas).
Guy-Manuel de Homem-Christo, 41 anos, e Thomas Bangalter, 40, são o Daft Punk. Eles estão juntos desde os anos 1990. Passaram por todas as variações da música eletrônica - fizeram house, techno, acid, electro e synthpop, em hits como Around the World (1999) e Harder Better Faster Stronger (2009). São camaleões que se apresentam vestidos de robôs - o que ajuda a mistificá-los. Na França, há grupos semelhantes, inclusive consagrados por público e/ou crítica (o Air entre eles). Mas Get Lucky é uma canção de alcance inigualável na cultura pop.
LOST
Depois que o último episódio foi ao ar, em 2010, Lost colecionou mais detratores do que admiradores - todos indignados com as arestas inaparadas e os conflitos mal-resolvidos ao longo das seis temporadas. Mas a verdade é que a série foi um marco histórico da TV por conta de suas inovações formais, que diziam respeito ao tamanho da produção, à narrativa cheia de idas e vindas no tempo e ao engajamento do público. Foi gigantesca a adesão de fãs à trama de mistério sobre um grupo de sobreviventes de um acidente que vive em
uma ilha.
Foi o trio Damon Lindelof, Jeffrey Lieber e J.J. Abrams que criou Lost, com Lindelof e Carlton Cuse cuidando dos roteiros e J.J. Abrams, o diretor do primeiro episódio, levando os principais créditos pela realização da série. Abrams, um amante da cultura pop de 48 anos, teve sua carreira de produtor catapultada, passando a assinar grandes projetos em Hollywood - dirigiu Missão Impossível 3 (2008), Super-8 (2011, produzido por Spielberg) e Além da Escuridão - Star Trek (2013), além do ainda inédito Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força.
"Com Lost, a TV deixou um pouco de lado a ideia de desfrutar de diversão old-fashioned para mergulhar nas nossas obsessões mais pessoais"
Charlie Brooker, no Guardian
AXN
BREAKING BAD
A opinião do crítico de TV do jornal de Philadelphia (em destaque ao lado) sintetiza o que Breaking Bad representa: se há uma obra máxima da era em que a TV tomou a linha de frente na produção audiovisual, é esta série que narra a história de Walter "Heinsenberg" White (Bryan Cranston). A jornada do pacato professor de química do Ensino Médio que se transforma em um ambicioso traficante de metanfetamina é digna de Dante e Virgílio - e lembra o pacto com o diabo de Fausto. Um projeto digno dos maiores clássicos.
Roteirista, diretor e produtor, Vince Gilligan começou na TV nos anos 1990, quando trabalhou em Arquivo X (1993-02). Ainda que projetos de televisão que duram diversas temporadas e envolvem grandes orçamentos geralmente dependam de esforços coletivos, ser o único criador de Breaking Bad catapultou seu prestígio na indústria - desde antes do fim da série, espera-se ansiosamente pelos seus próximos passos. Gilligan tem 49 anos e está dirigindo episódios de Better Call Saul, spin-off (derivado) de Breaking Bad.
"Não há outra reação para o espectador que não a de se tornar um fã devotado. Breaking Bad é a obra-prima da era de ouro da televisão"
David Hiltbrand, no Philadelphia Inquirer
AMC
24 HORAS
Foi com alta dose de polêmica que a Fox revolucionou as produções de ação (na TV e no cinema) ao lançar 24 Horas. Na série, a rotina do agente antiterrorismo Jack Bauer (Kiefer Sutherland) é examinada com uma overdose de tensão, potencializada pela reprodução do tempo real em cena e temperada com a tortura de suspeitos capturados, entre outros atos, vamos definir assim, ilegais. 24 Horas hipnotizou plateias, vidradas em suas surpresas e reviravoltas radicais - e influenciou inúmeras produções do gênero nos anos seguintes.
Com longa ficha de serviços prestados à televisão, Joel Surnow e Robert Cochran já passaram dos 60 anos de idade. Trabalham juntos desde a série Falcon Crest, em 1991, Surnow como roteirista, Cochran como montador. Eles criaram La Femme Nikita em 1997, e reuniram, para 24 Horas, diversos colaboradores desta última série. A série protagonizada por Kiefer Sutherland tem mais de 20 produtores, entre eles o próprio ator principal. É uma das grandes produções (em orçamento e mobilização de recursos) de seu tempo na TV.
Está sonolento? Entediado? Não há chance de Jack Bauer não reestabelecer sua adrenalina. A série às vezes é implausível e ilógica, mas sua fórmula única garante o sucesso"
Tim Goodman, no
San Francisco Chronicle
AMC
PORTA
DOS FUNDOS
Os humoristas que formaram o grupo homônimo, no Rio, foram visionários: usaram um novo suporte para o audiovisual (a internet), explorarando-o em tudo aquilo o que oferece: informalidade, liberdade de linguagem (para dizer palavrões e citar marcas de produtos sem qualquer receio), possibilidades infinitas de interação com o público. Suas esquetes rápidas, de não mais de quatro minutos, têm o formato ideal para "viralizarem". Mas não o fariam se não fizessem rir como poucos outros humorísticos atuais.
Os criadores são Fábio Porchat, Antonio Tabet, Gregório Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro. Mas o elenco é maior - tem, entre outros, Júlia Rabello e Clarice Falcão. Esta última, de 25 anos, também faz sucesso como cantora. Porchat, 31, e Duvivier, 28, rapidamente foram cooptados pelas emissoras de televisão e, no caso do segundo, um jornal de grande circulação (é colunista da Folha de S.Paulo). Embora tenham feito outras coisas antes, foi o Porta dos Fundos que lhes deu status de grande nome da comédia nacional.
"Os programas de internet estão mudando o establishment no entretenimento, mas poucos conseguiram a audiência do Porta dos Fundos. O grupo está entre os que registraram crescimento mais rápido de popularidade em todo o mundo"
Reportagem do New York Times
THE BIG
BANG THEORY
Embora tenha antecedentes diversos nas décadas anteriores (Woody Allen que o diga), o culto à figura dos geeks atingiu seu ápice neste século 21. Big Bang Theory é a produção de TV que sintetiza o fascínio desse tipo de personagem, especialmente pela composição do protagonista Sheldon Cooper (Jim Parsons). Seus três parceiros (Johnny Galecki, Simon Helberg e Kunal Nayyar) são igualmente ótimos, mas a série de fato cresce a partir de suas interações com as meninas, principalmente a vizinha loira interpretada por Kaley Cuoco.
Um dos grandes nomes da TV, Chuck Lorre, 62 anos, é um dos criadores de Big Bang Theory e também de Two and a Half Men, as duas sitcoms mais populares dos últimos anos. Para formatar BBT, ele se uniu ao roteirista Bill Prady, 54, com quem trabalhara em Dharma & Greg (1997-02). A ótima composição dos personagens e o timing do elenco fazem boa parte do trabalho, mas as referências nerds (de Star Trek à física quântica) são pescadas com habilidade pela dupla e sua equipe de mais de 20 roteiristas e consultores.
"O desfile de cérebros privilegiados faz nossas barrigas se retorcerem de tanto rirmos. BBT é um vício das noites de domingo na CBS"
Barry Garron,
na Hollywood Reporter
Fotos Warner
AVENIDA
BRASIL
A abertura estilizada, com Danza Kuduro na trilha e imagens prontas para se tornar virais de internet prenunciavam que Avenida Brasil era uma novela diferente no chamado "padrão Globo". A dramaturgia não tinha lá muitas diferenças, na comparação com aquilo que os fãs dos folhetins da emissora se acostumaram, mas alguns de seus personagens (Carminha!) e frases ("Toca pro inferno, motorista!") cativaram uma audiência gigantesca, composta de fatias nem sempre adeptas das novelas globais. Foi "a" representação da chamada "nova classe média" brasileira na cultura pop.
Parceiro de Walter Salles e outros cineastas em roteiros como o de Central do Brasil (1998), João Emanuel Carneiro migrou para a TV e se tornou o principal nome de uma nova geração de autores de telenovelas. Foi acusado por Salles de "roubar" uma história que ele usaria no filme Linha de Passe (2008). Polêmicas à parte, soube seduzir uma parcela até então ausente do horário nobre global. O resultado foi uma espécie de viralização de Avenida Brasil - algo inédito em se tratando das novelas da emissora. Tem 44 anos.
"Desde 1989, com Vale Tudo, o país não parava para o último capítulo de uma novela. Foi, seguramente, a primeira vez em que se acompanhou algo com um olho na TV e outro no computador"
Nilson Xavier, no portal Uol
Estevan Avellar
QUIZ
DO 21
Elaboramos 21 questões acerca de alguns dos novos clássicos da cultura pop, envolvendo curiosidades e bastidores dos livros, filmes, discos, músicas e séries que marcaram este século 21. Teste seus conhecimentos!
curadoria
EQUIPE DO SEGUNDO CADERNO
textos
DANIEL FEIX
edição
SABRINA PASSOS &
PATRÍCIA ROCHA
design
LEONARDO AZEVEDO
programação
LEONARDO AZEVEDO &
GUILHERME MARON
ilustração
LEONARDO AZEVEDO