SURFE DE BIKE E OS MOINHOS

A jornada se iniciou no dia 31 de janeiro em Tramandaí. O vento soprava a nosso favor quando a viagem começou, nos empurrando até Cidreira de forma bem generosa para uma estreia de temporada.Eu quis experimentar a sensação de pedalar pela maré. Com a refrescância da água salgada, fui tomado por uma irresistível vontade de cruzar por cima das primeiras ondas de resguardo do mar. Das marolinhas rasas, passei para outras maiores e, quando percebi, já estava com quase metade da bicicleta dentro do oceano, pedalando numa mistura de ignorância com confiança despreocupada. Uma sensação incrível e que deveria virar esporte olímpico. Não faltariam atletas.

 

Depois de oito quilômetros, saímos da beira do mar, pegamos a Avenida Curitiba e fomos à procura de água para beber e informações sobre o Parque das Dunas, nosso objetivo principal na primeira pedalada. Perguntamos a um casal de idosos, Nilo e Sandra casados há 43 anos e veranistas de Nova Tramandaí desde 1983, se sabiam qual saída poderíamos tomar no retorno por Cidreira. Prontamente nos convidaram para entrar.

 

– Pedalar é ótimo. Vou pegar água gelada e suco pra vocês – disse Sandra.

Andar de bicicleta gera uma empatia espontânea nas pessoas, que não seria a mesma se estivéssemos de carro. O mesmo ocorre quando um ciclista vê o outro. É comum nos cumprimentarmos com abanos, sorrisos e dizeres incentivadores. Dentre eles, a máxima: “Vamooooo!”.

Voltamos em direção à beira do mar. Subimos em um estrado de madeira que levava às areias e foi ali meu primeiro tombo da temporada.

 

Quando o estrado acabou, minha bicicleta atolou na areia fofa e caí de lado. Seguimos, e logo veio a segunda queda. Um motoqueiro com um carona passou pela beira do mar e decidi fazer uma corrida com eles. Por dois quilômetros, consegui me manter parelho com a moto. Até que a bike novamente atolou nas areias e, dessa vez, em alta velocidade, capotei. Voei rasante em uma cambalhota. Quando cheguei no chão vi os motoqueiros rindo da minha cara pelo retrovisor. Sorri também.

– Vamos, homem – disse o Botega, vindo mais atrás.

 

Enfim, chegamos às dunas. Quanto mais subíamos os morros de areia, mais deles surgiam pela frente. Pedalar numa paisagem desértica estimula o lado zen de qualquer ciclista. Não há nada a pensar a não ser no próprio movimento.

Quando voltamos para a estrada com nossas bicicletas e invertemos o sentido da jornada, começando o retorno para Tramandaí, eis que o vento muy amigo, tornou-se um carrasco nos empurrando na direção contrária a 60 km/h. O jeito era pedalar com toda a força. À distância, os geradores eólicos da região de Osório pareciam os imensos moinhos de Dom Quixote jogando tsunamis de ventos para cima de nossas bicicletas. Recurvávamos o corpo para frente em nossa pedalada na RS-786. Uma reta que parecia não ter fim. Seguimos sem acostamento por 22 km. Um ônibus intermunicipal passou tão perto que, por um triz, achei que embarcaríamos nele.

44,5km

percorridos

3h20

pedalando

1º dia

de viagem

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