MARLEY E EU

Dia 6 de fevereiro. Bob Marley faria 72 anos. Um especial na rádio Atlântida tocava seus maiores hits. Para celebrar seu aniversário, decidi pedalar ouvindo a obra do rei do reggae no longo trajeto de Torres a Mampituba, até a Cachoeira dos Borges.

 

Solicitamos ao Google Maps um roteiro para bicicletas. Em determinado momento, entramos em uma estrada de chão com muitas pedras, passando em uma zona rural que costeava a BR-101 e onde o sinal da internet era coisa de ficção científica. Tínhamos de parar constantemente e verificar se a versão offline do roteiro permanecia correta. Meu fone de ouvido se intercalava entre a voz do Google e a de Bob Marley. Era preciso estar atento. O delay do áudio sem internet poderia fazer com que nos perdêssemos e desperdiçássemos energia já escassa.

Chegamos a uma pinguela sobre o Rio Verde. Estreita, não permitia a passagem de carros. Ao subirmos, começou a tremular. Para diminuir o peso no deslocamento, deixamos o kit de reparos no carro de apoio. O motorista teve que dar a volta para nos encontrar no fim do trajeto.

 

Mas aí Botega passou por um prego na pinguela e o pneu furou. Sem sinal de celular e sem civilização num raio de quilômetros, ficamos sem socorro. Ele me sugeriu que eu fosse à frente e encontrasse Leandro para pegar a câmara sobressalente.

 

Fui. Marley e eu. Rodei por 27 quilômetros verdejantes sem encontrar nosso carro de apoio, até que Botega me telefonou. Seguindo a pé, havia cruzado por um motoqueiro sem capacete, que ofereceu ajuda. Levaram a bike para uma borracharia de máquinas agrícolas.

 

– Se consigo trocar o pneu de um trator, desta bicicleta também vou conseguir – disse Reni Schaeffer Bauer, 52 anos, morador da região.

 

Quando eu e Botega nos reencontramos, veio também a chuva. Seguimos pelo pior trecho da viagem. Trepidamos tanto que o sangue parecia sumir dos dedos. Dezenas de motoqueiros passavam por nós sem capacete, entre eles muitos menores de idade. Empurrando ladeira acima, chegamos ao camping da Cachoeira dos Borges. Jantamos, tomamos uma dose de cachaça e apagamos em uma cabana chamada Jaguatirica – vizinha da Lontra e da Macaco-Prego.

Ao despertarmos às 8h, um frio de 17ºC nos surpreendeu no vale de Mampituba. Estávamos numa espécie de buraco paradisíaco. Diversas trilhas e piscinas naturais flanqueavam os arredores. Às 10h, encaramos a pé a trilha para a cachoeira dos Borges – o local é impróprio para bicicletas. Caminhamos por 40 minutos, cruzando por uma mata repleta de belezas naturais. O trajeto tem cordas e escadas de madeira para ajudar na escalada.

 

Um vapor d’água varria a vegetação nas proximidades da cachoeira. Com os corpos moídos da pedalada anterior, nos jogamos debaixo dela. A água caindo de uma altura de 70 metros era uma verdadeira hidromassagem. Do alto, é possível vislumbrar boa parte de Mampituba e de Praia Grande, em Santa Catarina. O lugar mais inusitado e paradisíaco pelo qual passamos no Litoral Norte.

46,4km

percorridos

5h30

pedalando

6º dia

de viagem

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