PEDALADAS E DESCOBERTAS
Em fevereiro de 1995, um ano antes de morrer em decorrência de complicações causadas pela aids, Caio Fernando Abreu escreveu um texto, Uma História Positiva, em que elencava algumas razões urgentes para pegar a estrada ou embarcar em um avião para (re)descobrir novos lugares. “Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar”.
Com esse espírito, o fotógrafo Jefferson Botega e eu deixamos Porto Alegre no dia 3 de janeiro rumo ao Chuí, com nossas bikes penduradas no carro para “ver, rever, transver, milver” o sul do Estado. A partir da cidade mais meridional do país, o caminho passaria a ser percorrido sobre duas rodas. O plano: rodar e desbravar lugares com potencial para serem explorados por quem ama se aventurar por aí de bicicleta.
Para aproveitar a jornada da forma proposta – parando, sem pressa, curtindo –, é preciso muito mais do que um olhar atento. Uma boa revisão na bici antes de pegar a estrada, preparo físico e disposição são fundamentais para quem quiser repetir a experiência – assim como estar aberto ao improvável e disposto a correr riscos.
A VIAGEM
Ciclistas habituados com a cidade, os editores Rafael Balsemão e Jefferson Botega desbravaram sete rotas no sul do Estado
As descobertas foram muitas, como um pôr do sol no trapiche do Porto de Santa Vitória do Palmar, às margens da Lagoa Mirim, um local pouco explorado por turistas. Calor insuportável na estrada, com paradas em lugares onde é impossível encontrar uma mísera sombra; cobras no percurso, que revelaram uma fobia que eu nunca imaginei poder sentir; e a simpatia de ciclistas e motoristas, externadas por meio de buzinadinhas na estrada, também fizeram parte da aventura.
– A melhor coisa sobre viajar de bicicleta é conhecer estranhos ao longo do caminho e se conectar com eles de uma forma que seria impossível viajando de carro – afirma a cicloativista norte-americana Elly Blue, autora de Bikenomics (Babilonia Cultural Editora, 2016), livro no qual defende o ato de pedalar como algo capaz de fazer do mundo um lugar melhor.
Até os percalços tiveram o seu lado belo, como a chuva que caiu a caminho do Molhe Leste de São José do Norte, onde o mar do Oceano Atlântico se encontra com a água doce da Lagoa dos Patos.
A experiência começou no Chuí, no dia 4 de janeiro, quando tiramos as bikes do carro para descer até Punta del Diablo, no Uruguai. Depois de sete dias na estrada, somamos 393,7 quilômetros pedalados.
Durante sete dias, jornalistas de ZH percorrem quase 400 quilômetros de bicicleta em uma jornada que começa no Chuí, atravessa o Uruguai e termina na praia do Laranjal, em Pelotas
393km
percorridos
23h18
pedalando
7 dias
de viagem
TEXTO
Rafael Balsemão
IMAGENS
Jefferson Botega
EDIÇÃO DE VÍDEO
Luan Ott
DESIGN
Thais Longaray
INFOGRAFIA
Izabel Cruz
Publicado em 20 de janeiro de 2017
Em fevereiro de 1995, um ano antes de morrer em decorrência de complicações causadas pela aids, Caio Fernando Abreu escreveu um texto, Uma História Positiva, em que elencava algumas razões urgentes para pegar a estrada ou embarcar em um avião para (re)descobrir novos lugares. “Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar”.
Com esse espírito, o fotógrafo Jefferson Botega e eu deixamos Porto Alegre no dia 3 de janeiro rumo ao Chuí, com nossas bikes penduradas no carro para “ver, rever, transver, milver” o sul do Estado. A partir da cidade mais meridional do país, o caminho passaria a ser percorrido sobre duas rodas. O plano: rodar e desbravar lugares com potencial para serem explorados por quem ama se aventurar por aí de bicicleta.
Para aproveitar a jornada da forma proposta – parando, sem pressa, curtindo –, é preciso muito mais do que um olhar atento. Uma boa revisão na bici antes de pegar a estrada, preparo físico e disposição são fundamentais para quem quiser repetir a experiência – assim como estar aberto ao improvável e disposto a correr riscos.
DIA 1
Buzinadinhas de incentivo e reggaeton
DIA 2
Acrobacias, alegria e pinturas corporais
DIA 3
Sobre assaduras e pôr do sol inesquecível
DIA 4
Pescaria e diversão nos molhes de Rio Grande
DIA 5
Capas de chuva, paralelepípedos e areia
DIA 6
Fobia, medo de altura e solidão
DIA 7
A melancolia da última pedalada