compartilhar a cidade
As tecnologias de comunicação e informação têm dado pistas de como poderão ajudar a moldar o amanhã. Em 2020, 90% das pessoas utilizarão smartphones. É o que o coordenador do bacharelado em Design da Unisinos, Fabricio Tarouco, chama de “smartphonização da sociedade”.
– Cada vez mais há aplicativos que nos permitem experienciar a cidade. Os aplicativos vêm transformando o funcionamento do trânsito e as questões de mobilidade. Primeiro, parei de me perder, tenho facilidade de chegar aonde eu quero. E tenho uma série de serviços, como os aplicativos para táxi, aplicativos que fazem cálculo inteligente que nos levam para rotas alternativas, minimizando o problema do engarrafamento – pontua.
Exemplos da chamada mobilidade sob demanda, aplicativos como o conhecido EasyTaxi, o controverso Uber (que “transforma” pessoas físicas em taxistas) e o incipiente UberPool (que conecta motoristas com carros vazios e caroneiros com rotas semelhantes) são o software da nova cidade, otimizada e inteligente. A infraestrutura, de implantação mais lenta e difícil atualização, é o hardware. As cidades do futuro terão de dar espaço, ainda que regrado, a essas opções, que podem garantir resiliência ao sistema de mobilidade e ajudar a urbe a cumprir sua vocação de incentivar novos comportamentos e otimizar o uso de veículos. Relegar essas opções à marginalidade pode ter efeito inverso, com soluções diversas competindo entre si.
Em vídeo, conheça projeto da Unisinos
para acessibilidade na cidade do futuro
a redenção do carro?
A mobilidade sob demanda dá aos carros um lugar de destaque nas microrrevoluções da mobilidade. Essa redenção do automóvel tem sido conduzida por empreendedores como Robin Chase, que fundou, em 2000, a Zipcar, pioneira em carros compartilhados. Para Robin, o potencial anticongestionamento do modelo de compartilhamento é bastante óbvio.
– Se nós compartilhamos carros, reduzimos a necessidade de vagas de estacionamento. Se nós partilhamos as viagens, reduzimos o número de carros que viajam nas ruas. Além disso, ao pagar pelo uso do carro a cada viagem, as pessoas viajam até 80% menos quilômetros.
Melhor ainda se os veículos, além de compartilhados, forem elétricos – como ocorre atualmente nos Estados Unidos e na Europa, e estudantes da UFRGS querem implantar na Capital (confira no vídeo abaixo). O Google tem acelerado o desenvolvimento de seus carros elétricos autônomos. Uma frota dominada por eles poderá fluir pelas estradas como um comboio, enquanto os ocupantes se divertem, trabalham ou descansam. Em uma cidade inteligente e sincronizada, os carros, movidos a energia limpa, não pegariam sinal vermelho e reduziriam em 90% acidentes e atropelamentos.
Os gigantes da indústria também não querem perder o trem da história e têm investido em veículos que mantenham a pose enquanto dispensam motorista e petróleo. Mas, nessa estrada, comem a poeira deixada pela Tesla Motors. O trunfo da startup do CEO Elon Musk está na tecnologia de armazenamento. O luxuoso (e caro) Modelo S tem autonomia de 400 quilômetros e desempenho para esportivo nenhum botar defeito. Até 2017, Musk espera derrubar em 30% o custo de produção das baterias para produzir um modelo de carro elétrico mais acessível, na faixa dos US$ 30 mil.
Nossa civilização fez as cidades para os carros, e parece que eles vão continuar compartilhando elas com a gente por um bom tempo.
– O que queremos, ao final das contas, é mais acessibilidade com menos deslocamentos. Como fazer a cidade mais habitável. Cada solução tem de estar adaptada a sua realidade. Pessoas, carros e bicicletas conviviam antigamente. Não vejo por que não possa ser assim no futuro – afirma o consultor Ricardo Marar, PhD em transportes pela Universidade de Londres.
Em vídeo, o estudante da UFRGS
Lucas de Paris fala sobre o projeto
de carro compartilhado SiVI
como será a mobilidade urbana
em 2050? mudará nossa relação
com a cidade?
Convidamos especialistas a imaginar ou projetar em que cidades nos deslocaremos em 2050, e como esse deslocamento será feito. Clique nos botões azuis para ler as previsões.
Foto: divulgação
MAIS NESTA EDIÇÃO:
“O futuro é multimodal. Vamos viajar distâncias curtas a pé. Muitas vezes, viajaremos de bicicleta (viagens de menos de 3 km). Ainda teremos algum trânsito ferroviário, mas a maior parte de viagens motorizadas em alta velocidade dentro das cidades será feita com carros autônomos.
Eles irão substituir táxis, vans, ônibus e carros pessoais.
E, em 2050, eu não tenho nenhuma dúvida de que todos esses veículos serão não poluentes. O mundo não vai permitir nada menos do que isso."
Robin Chase ::
empreendedora americana, fundadora do Zipcar
"Em questão de estrutura, pouca coisa vai mudar. As grandes mudanças vão estar em novos serviços, como o aluguel de bicicletas que já temos hoje. O pensamento sustentável vai atrair quem tem como se adequar a ele. Vamos investir em outros tipos de modais, mas, somado a isso, teremos todos os recursos que tecnologia e criatividade puderem nos oferecer. Seguiremos nos locomovendo muito, porque andamos por necessidade. E tende a aumentar a apropriação dos espaços públicos, conforme qualificamos parques e praças para uso da sociedade. Acho que isso será intensificado."
Fabricio Tarouco ::
coordenador do Bacharelado em Design da Unisinos
"Como os carros irão preencher todo o espaço a eles disponibilizado, as cidades terão de decidir quantas pistas de congestionamento elas querem. Quando esta escolha é bem compreendida, cidades inteligentes dividem suas vias públicas de forma equitativa para servir todos os modos, de forma equilibrada, limitando drasticamente os automóveis, uma vez que os outros modos são muito mais eficientes no uso de espaço e recursos. A cidade inteligente de 2050, se não estiver submersa graças aos últimos 50 anos de poluição de automóvel, terá muito poucos veículos particulares nas suas áreas centrais mais densas."
Jeff Speck ::
urbanista americano, autor de Walkable City:
How Downtown Can Save America, One Step at a Time
“Queria que as pessoas estivessem andando a pé, por calçadas mais largas, com vegetação, aproveitando mais o entorno. Que as ruas e as praças e os parques fossem o principal espaço de convivência nas cidades. Gostaria que as pessoas se conscientizassem disso e não delegassem a tarefa somente ao poder público. Se conseguirmos qualificar as ruas, vamos ter um ambiente mais humano e será bom para todo mundo. Porque as cidade têm de ser humanas."
Nívea Oppermann ::
diretora de Desenvolvimento Urbano da Embarq Brasil
"A mobilidade em 2050 vai ser a mobilidade do pedestre, que vai ter liberdade e segurança, vivendo a cidade com alegria. Voltaremos a ser pedestres. A tecnologia está trazendo o debate sobre o que é fundamental. É difícil prever se as pessoas vão optar por ficar mais em casa ou não. O fato de não precisarem se locomover até o local de trabalho pode levá-las a criar mais movimento nas cidades em outras atividades, frequentar mais cafés, fazer mais ginástica."
Ricardo Marar ::
consultor em mobilidade sustentável,
PhD em transportes pela Universidade de Londres
"“A mobilidade urbana será focada nas pessoas,
e não nos veículos, fazendo com que mais sistemas
de compartilhamento de recursos sejam utilizados.
O carsharing (compartilhamento de carros) será bastante comum. As vias urbanas serão dedicadas aos pedestres, para que a gente se desloque mais a pé do que em veículos. O veículo de uso particular não existirá em 2050.”
Lucas de Paris ::
CEO da empresa MVM, que quer conectar os campi
da UFRGS com carros elétricos compartilhados
Carro elétrico autônomo do Google: promessa de alívio para o trânsito e o ambiente