o futuro da mobilidade

Quando 2050 chegar e 70% da humanidade estiver concentrada em cidades, será bom estarmos preparados. É passada a hora de repensar como nos movimentaremos. Se não tivermos transformado os sistemas que nos levam de um lugar ao outro, não iremos a lugar nenhum.

é um desafio para grandes e

pequenos. o número de megacidades deve aumentar de 28 para 41 até 2030, mas são as cidades com menos de 1 milhão de habitantes as que mais crescem.

É passada a hora de planejar como cidades de todos os tamanhos vão se expandir e como os cidadãos vão percorrê-las cotidianamente.

 

– O urbanismo como ciência existe há cento e poucos anos. O automóvel tem cem anos, olha como ele modificou a vida nas cidades! Hoje elas vivem em torno do automóvel. Planejamento e sustentabilidade são a chave para o futuro – aposta Nívea Oppermann, diretora de Desenvolvimento Urbano da Embarq Brasil, ONG que estuda a mobilidade e o desenvolvimento urbano e produz relatórios voltados para governos e empresas.

 

Por sorte, muitas das grandes cidades de 2050 ainda não existem – e 80% da infraestrutura também não. Nas próximas décadas, veremos despontar modelos inovadores de cidade, de transporte e de mobilidade, em países desenvolvidos, mas principalmente, em países em desenvolvimento e economias emergentes.

 

No Brasil, a consciência da lição de casa tornou-se mais concreta em 2012, com a Lei de Mobilidade Urbana, que forçou municípios a planejar sistemas de mobilidade para um futuro sustentável. Mas a implementação depende da cobrança constante pela sociedade.

 

O tema mobiliza governos, empresas, ONGs e sociedade. Um grupo de pesquisadores da Unisinos desenvolveu um relatório que projetou cenários para a Carlos Barbosa de 2030 com base na metodologia do design estratégico. O estudo recomenda à cidade serrana ações sustentáveis em mobilidade orientadas pela busca de qualidade de vida: fiação e estacionamentos subterrâneos, equipamentos urbanos que promovam acessibilidade, transporte público integrado a opções como bicicletas e carros compartilhados.

 

Em setembro, o Rio de Janeiro sediará o congresso internacional Cidades & Transportes, voltado a governantes, legisladores e empresários. Recentemente, em São Paulo, o 1º Startup Weekend convocou jovens a apresentarem startups com soluções digitais para a mobilidade. A integração, palavra frequente nas próximas páginas, deve ocorrer também entre as esferas diversas da sociedade movidas pelo tema.

 

Nesta edição de Rumo, reunimos ideias sustentáveis para o futuro da mobilidade. Muitas delas já vêm sendo testadas, dando certo e proporcionando mais mobilidade e mais acesso para cidadãos de todo o mundo. Não ficar parado agora é fundamental para não ficar trancado depois.

 

 

EM TERMOS

 

mobilidade sob demanda

Sistemas como carros e bicicletas compartilhados que, integrados aos demais modais de transporte, podem reduzir

o número e o impacto ambiental de automóveis nas ruas.

 

cidades caminháveis

Conceito segundo o qual cidades sustentáveis são aquelas

em que os deslocamentos cotidianos dos cidadãos estão

a, no máximo, 20 minutos de caminhada.

 

gestão de demanda de viagens

TDM, na sigla em inglês, é o conjunto de políticas e ferramentas, do poder público e de empresas, para reduzir o número de viagens e tornar mais sustentável o trânsito nas cidades.

:: DE TRÁS PRA FRENTE

1992

1982

1958

1920

1900

1899

1895

1871

Os Jetsons em seu disco voador ou deslizando por calçadas rolantes são a visão arquetípica do futuro da mobilidade. Enquanto os estúdios de animação aceleravam na autoestrada otimista da era espacial, a realidade sonhava por linhas tortas com um futuro grandioso.

O livro infantil Timelines: Transport, de 1992 , apontava a insustentabilidade da mobilidade baseada no carro. Sugeria que teríamos trens magnéticos deslizando a 650 km/h e definia o veículo ideal do futuro: alimentado pelo sol, autoguiado, viajando em comboios, à prova de colisão. Na mosca.

Símbolo da ficção científica, o filme Blade Runner (1982) imaginava viaturas policiais capazes de andar em solo e no ar. A destreza aérea dos spinners do diretor Ridley Scott encontra paralelos nos drones, veículos não tripulados que, em breve, devem fazer as vezes de carteiros e motoboys.

Carros solares não são sonhos recentes: a GM fez o seu na década de 1950. Versões com mais conforto e autonomia foram previstas em 1958, pelo então vice-presidente da Chrysler, James Zeder.

Le Corbusier acreditava no automóvel como arauto da velocidade nas cidades, elas próprias tidas como máquinas pelo influente arquiteto modernista, que sonhava com cidades planejadas em torno das necessidades de trânsito, com largas avenidas organizadas de modo  racional, para evitar os congestionamentos que, na década de 1920, já afetavam cidades como Paris e Nova York.

Ao longo da primeira metade do século 20, o carro se tornou protagonista nos projetos urbanísticos do futuro. Sistemas complexos de viadutos e ruas com o maior número de pistas simbolizavam o progresso e a liberdade.

Califórnia, 1899. O empresário Horace Dobbins apostou em uma ciclovia elevada que conectaria as cidades de Los Angeles e Pasadena. Mas Dobbins não calculou a ascensão do automóvel, e a construção foi abortada aos 12 km de vida. Mais de um século depois, a ideia está no papel em Londres

e já foi concretizada em Copenhague.

No fim do século 19, ainda não se imaginava como os carros tornariam as cidades esparsas: a ilustração What We Are Coming To , publicada pelo cartunista Grant Hamilton na revista americana Judge em fevereiro de 1895 (imagem acima), idealiza cidades apinhadas de arranha-céus, em que a mobilidade se restringe a um trilho de trem que envolve a massa densa de concreto. Na rua, bonde e carroça.

As esteiras rolantes de aeroportos são um conceito mais velho que os Jetsons: o inventor Alfred Speer patenteou a ideia em 1871. As “calçadas móveis” de Speer deslizaram pela primeira vez em 1893, na Feira Universal em Chicago.

texto

Fernando Corrêa

 

 

design

Leonardo Azevedo

Henrique Tramontina

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