Superproduções, alguma inovação e a consolidação dos serviços de streaming marcaram o ano na TV. Tentando se adaptar aos novos hábitos de consumo, a Globo deu liberdade aos autores de séries e, assim, nasceu Justiça, a melhor produção brasileira da temporada. 2016 também será lembrado pela morte de Domingos Montagner, em meio à exibição de Velho Chico. No Exterior, segue o embate entre Netflix e HBO, responsáveis pelas séries mais comentadas do ano. Relembre o que bombou na televisão em 2016.

RETROSPECTIVA

2016

TELEVISÃO

MULHERES DO ANO

Personagens femininas fortes também marcaram o ano. De Game of thrones à Liberdade, liberdade, todo o poder esteve nas mãos delas. Na série da HBO, destaque para Lena Headey (Cersei), Emilia Clarke (Daenerys) e Maisie Williams (Arya). Outro grande nome da TV seguiu sendo Viola Davis com sua Annalise Keating em How to get away with murder, uma das quatro séries capitaneadas pela superprodutora da TV americana Shonda Rhimes. Ainda teve Tatiana Maslany sendo reconhecida pelo seu trabalho em Orphan black com o Emmy de melhor atriz em drama. No Brasil, dois nomes reinaram: Andreia Horta com a heroína Joaquina de Liberdade, liberdade – e também no cinema, como Elis Regina –, e Adriana Esteves, que brilhou como a sofrida Fátima, em Justiça.

MUITO ALÉM DE KÉFERA

Enquanto Kéfera Buchmann decidiu navegar em outros mares, tendo estrelado dois filmes em 2016 (É fada e O amor de Catarina) e se afastado do seu 5incoMinutos, e Jout Jout seguiu firme com seus vídeos empoderados, outros nomes ganharam projeção no vasto mundo dos youtubers. De Whindersson Nunes, que termina o ano como o maior canal do país, com mais de 15 milhões de inscritos, a “novatos” já bem conhecidos do grande público – como Xuxa, Marília Gabriela e Gretchen –, há muito para se destacar nesse universo. Entre os canais mais bacanas, estão o Coisa de Nerd e Acabou de Acabar, ambos sobre cultura pop; Rezende Evil e Authentic Games, de games; Porta dos Fundos e Parafernalia, com esquetes de humor; Canal das Bee e Põe na Roda, sobre o universo LGBT; Ana Maria Brogui e Dani Noce, de culinária; e Manual do Mundo, que apresenta vídeos educativos.

SETE É O NOVO HORÁRIO NOBRE

2016 será marcado como o ano em que as novelas das sete foram muito melhores e fizeram mais sucesso do que as tramas das nove. Totalmente demais, de Rosane Svartmann e Paulo Halm, começou muito bem a temporada ousando nos conteúdos transmídias e atraindo o público jovem, que tem preferido os serviços de streaming à TV aberta e sua grade fixa de programação. A história estrelada por Marina Ruy Barbosa não era inovadora, mas o clima de conto de fadas agradou. Depois, Haja coração seguiu com bons índices de audiência ao trazer uma releitura da trama de Tancinha, a feirante de sotaque carregado de Sassaricando (1987). Além de Mariana Ximenes como a grande estrela, uma coadjuvante roubou a cena, a gaúcha Grace Gianoukas. E, para fechar o ano, Rock story reuniu música e romance para fisgar de vez o público. Com Vladimir Brichta no comando da trama, a novela de Maria Helena Nascimento mal começou – estreou em novembro – e já tem tudo para fazer história.

A MORTE QUE ABALOU O PAÍS

Bem produzida, com visual apurado e diferente do que o público estava acostumado a ver na TV aberta, Velho Chico, infelizmente, ficará marcada pela trágica morte de seu protagonista. O afogamento de Domingos Montagner, em 15 de setembro, nas águas do Rio São Francisco, um dos cenários da trama de Benedito Ruy Barbosa e seu neto Bruno Liperi, deixou o país em choque. Ator talentoso que começava a ganhar ares de estrela, Montagner fazia um trabalho elogiado como Santo. Para finalizar a novela sem um de seus personagens principais, os autores e o diretor Luiz Fernando Carvalho utilizaram o recurso da câmera subjetiva, com os atores falando com a câmera como se estivessem contracenando com Montagner. Mesmo na tragédia, Velho Chico soube ousar. Sem dúvida, uma das melhores novelas do ano.

TABU DERRUBADO

Uma cena até comum em produções estrangeiras provocou alvoroço em terras brasileiras. Caio Blat e Ricardo Pereira foram os responsáveis por protagonizar a primeira sequência de sexo entre homens na teledramaturgia da TV aberta nacional.

Isso só foi possível pelo horário em que Liberdade, liberdade, trama escrita por Mário Teixeira, era exibida: a faixa das 23h. A Globo vem utilizando esse espaço de sua grade para levar ao ar roteiros mais ousados – como fez com Verdades secretas, em 2015. Mesmo sendo uma novela de época, que retratou o período pós-Inconfidência Mineira, a obra foi um dos grandes destaques do ano não só pelas cenas entre os personagens Tolentino (Pereira) e André (Blat), mas também pela atuação de Andreia Horta, como a heroína Joaquina, e Marco Ricca, como o bandoleiro Mão de Luva, que até ganhou um spin-off só seu na web.

TALK-SHOW: A DESPEDIDA DE JÔ E OS NOVATOS

A televisão vivenciou o fim de uma era em 2016. Referência do formato talk-show no Brasil, Jô Soares deu adeus ao Programa do Jô em dezembro, fechando um ciclo de 16 anos à frente da atração. Na verdade, o término da produção representa o fim de quase três décadas de história: antes, o apresentador e humorista também comandou o Jô Soares onze e meia, no SBT. Queda nos índices de audiência e o desgaste no formato teriam agravado a estabilidade da produção e contribuído para o encerramento das atividades. Em meio ao clima de despedida, dois dos comediantes mais influentes do país lançaram novos talk-shows na TV. Marcelo Adnet estreou o seu Adnight, na Globo, e Fábio Porchat lançou o Programa do Porchat, na Record. Ambos não foram muito bem recebidos pela crítica e ainda tentam encontrar a fórmula certa para suas atrações equilibrarem entretenimento e entrevistas de qualidade. De qualquer forma, é preciso salientar: 2016 foi o ano de reformulação desse formato no país.

NETFLIX À BRASILEIRA

Depois de muita espera, enfim a Netflix resolveu apostar em uma produção brasileira. Em novembro estreou a série de ficção científica 3%, estrelada por Bianca Comparato e João Miguel. A premissa da história é muito boa: em um Brasil pós-apocalíptico, um regime distópico emerge dividindo a população em duas camadas distintas, e para ascender à ilha de Maralto um rígido processo seletivo é realizado. O sucesso do episódio piloto disponibilizado pelos produtores em 2011 no YouTube contribuiu ainda mais para a repercussão. A discussão sobre meritocracia e suas consequências rende bem, mas acabou se perdendo no meio do caminho, principalmente pela falta de cuidado com cenários e figurinos. Apesar disso, além de Bianca, novos nomes despontaram com boas atuações, como Vaneza de Oliveria e Mel Fronckowiak. O gancho do último episódio, ainda assim, deixou um gosto de quero mais, tanto que a empresa já garantiu uma segunda temporada para a série, o que fortalece a abertura do mercado nacional para novas produções do gênero.

ESTRELATO AOS 40

Após cinco anos meio que escondido em Tapas & beijos, Vladimir Brichta estourou no segundo semestre e termina 2016 como um dos grandes nomes da TV. Primeiro, o ator destacou-se como o traficante romântico Celso, da minissérie Justiça – a principal produção brasileira do ano, no qual era um personagem coadjuvante que ganhou proporções de protagonista. No cinema, o baiano de 40 anos foi visto em Um homem só, longa de Claudia Jovin no qual interpretou Arnaldo, homem infeliz no casamento e no trabalho que tinha uma versão melhorada em forma de clone. E ainda vai estrelar a cinebiografia do palhaço Bozo em Bingo – O rei das manhãs, que estreia em 2017. Mas seu grande papel está sendo o roqueiro veterano Gui Santiago de Rock story. Elogiado pela crítica, Brichta ainda tem conseguindo algo pouco comum nas novelas da Globo: a aprovação unânime nos grupos de discussão que a emissora faz sobre suas novelas.

A FORÇA DO STREAMING

Cada vez mais o público se rende aos serviços de streaming para assistir aos seus programas preferidos. Dando liberdade para as pessoas fazerem seus próprios horários, esse tipo de distribuição está roubando o espaço da TV tradicional. Tanto que até a Globo apostou em uma plataforma própria, a Globo Play, e já adota estratégias diferenciadas para lançar suas produções – caso de Supermax, que teve 11 episódios liberados em conjunto antes da estreia do primeiro na TV aberta. 2016 consolidou ainda mais a Netflix nesse nicho, principalmente com produções próprias de muita repercussão. Stranger things (foto) foi o grande destaque da empresa. Estrelada por Winona Ryder, a série de suspense agradou com sua homenagem aos anos 1980. Aliás, revival foi o grande lance do ano. Fuller house – spin-off de Três é demais –, Gilmore girls e Black mirror ganharam novos episódios e causaram comoção. Outra empresa que chegou ao Brasil foi a Amazon PrimeVideo, e a HBO começa a ofertar por aqui seu HBO GO. Assim, o mercado vai ganhando concorrência. O sucesso é tanto que os políticos viram nesses serviços uma nova fonte de renda ao Estado e aprovaram a cobrança de uma alíquota de 2% de Imposto sobre Serviços (ISS), de competência dos municípios e do Distrito Federal – um peso a mais nos preços das assinaturas.

PERSPECTIVA 2017

Com os serviços de streaming crescendo mais e mais a cada ano, a grande questão do universo da TV é saber como os canais tradicionais vão se adaptar nessa reconfiguração do mercado. A HBO é a mais recente empresa a lançar uma plataforma própria e independente de assinaturas de TV paga – no Brasil, o calendário de lançamentos está sendo organizado por Estado e ainda não foi totalmente divulgado. A Amazon PrimeVideo, que acabou de chegar ao país, deve lutar para consolidar seu lugar com boas produções, como Transparent. Já na Netflix, o ano começa com uma série estrelada por Neil Patrick Harris: Desventuras em série.

Algumas novas produções nacionais estrearão logo em janeiro. Na Globo, depois de 16 anos sob o comando de Pedro Bial, o reality show mais longevo do país troca de mãos. Tiago Leifert assume o Big brother Brasil a partir do dia 23. Bial, por sua vez, vai ocupar a faixa deixada por Jô Soares, que na última semana renovou contrato com a Globo mas ficará em férias durante todo o ano. Nas novelas, os grandes destaques até o momento são Força do querer, nova trama de Glória Perez, que estreia em abril no horário nobre e terá um personagem transexual, e a nova temporada de Malhação, que desta vez será assinada por Cao Hamburguer, criador de Castelo Rá Tim Bum. Nas séries, a emissora carioca seguirá com a estratégia de privilegiar sua plataforma Globo Play, com estreias antecipadas, como as de Dois irmãos e Cidade dos homens.

SUPERPRODUÇÕES E GRANDES HISTÓRIAS

Sem saber muito bem como lidar com o avanço do streaming, a HBO mostra sua força com tramas bem roteirizadas e produzidas. Não à toa, um dos grandes momentos da TV em 2016 foi a Batalha dos bastardos, o penúltimo episódio da sexta temporada de Game of thrones. O épico confronto não só bateu recorde de audiência como recebeu a melhor avaliação da história do IMDb, maior database de cinema e TV do mundo. E a HBO não parou por aí: teve a volta de Sarah Jessica Parker, produzindo e estrelando Divorce; o lançamento de Vinyl, série produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger; e a incrível Westworld (foto). Esta tende a ser a sucessora de Got, que terá apenas mais duas temporadas. Com Anthony Hopkins e Rodrigo Santoro no elenco, a série é um misto de ficção científica com suspense que agradou a público e crítica.

MELHORES DO ANO

10

JUSTIÇA, minissérie (RBS TV)

 

VELHO CHICO, novela (RBS TV)

 

LIBERDADE, LIBERDADE (RBS TV)

 

STRANGER THINGS, série (Netflix)

 

MINHA ESTUPIDEZ, série (GNT)

 

GRANDES CENAS, série (Canal Brasil)

 

WESTWORLD, série (HBO)

 

LIBERDADE DE GÊNERO, série documental (GNT)

 

ADOTADA, reality show (MTV)

 

MASTERCHEF PROFISSIONAIS, reality show (Band)

Atualizado em 28 de dezembro de 2016

textos

Nathália Carapeços

Vanessa Scalei

DESIGN

Thais Longaray