Publicado em 4 de novembro de 2016

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Gustavo Brigatti

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Thais Longaray

Vinte anos depois de quebrarem os pratos, Axl Rose, Slash e Duff McKagan estão de volta dividindo o mesmo palco. "Not in this lifetime", a turnê de reunião do Guns N' Roses, começa nesta terça-feira, no Brasil, com abertura em Porto Alegre. Confira a seguir um pouco da trajetória e do que esperar do espetáculo da banda mais perigosa do mundo.

Se o Guns N' Roses mantiver o set list que vêm apresentando desde o início da turnê, o show em Porto Alegre esta noite será aberto com It's so easy. Nada poderia ser menos verdadeiro: para o Guns N' Roses — com milhões de discos vendidos, shows em estádios com lotação esgotada, músicas que se tornaram hinos, um exército de fãs incondicionais — nada nunca foi fácil.

A própria presença dos músicos no gigantesco palco montado no Beira-Rio é algo próximo de um milagre. Slash e Axl Rose, os dois motores do Guns N' Roses, passaram os últimos 20 anos trocando farpas por todos os meios possíveis. O clima entre os dois era tão ruim que o nome da turnê brinca com o quão inclinados os dois estavam em se juntar novamente: Not in This Lifetime... (não nesta vida, em uma tradução livre).

Mas antes de se dinamitarem como banda, os músicos testaram seus próprios limites como poucos. O baixista Duff McKagan, outro fundador do Guns que está de volta, esteve próximo de morrer após uma crise de pancreatite aguda motivada por consumo excessivo de álcool — aos 30 anos. Steven Adler abusou tanto das drogas que acabou demitido pouco antes das gravações dos álbuns Use Your Illusion por ser incapaz de tocar bateria.

Slash foi além: seu vício em heroína e cocaína quase o matou por overdose mais de uma vez. Como resultado, desenvolveu problemas cardíacos que o obrigaram a instalar um desfibrilador — e largar completamente os aditivos químicos. Já Axl era viciado em problemas, como quebrar quartos de hotéis, se atrasar para shows, brigar com fãs, compor letras misóginas, racistas e homofóbicas (ou tudo isso junto) ou simplesmente tomar o nome da banda para si.

Não bastasse o comportamento errático como seres humanos, eram músicos igualmente complicados. Appetite for Destruction, disco de estreia da banda, teve seus instrumentos gravados em poucas semanas, mas demandou dois meses de produção no total por conta do perfeccionismo de Axl na gravação dos vocais (o que se mostrou acertado, no final das contas). Nas gravações do sucessor de Appetite, o problema foi a megalomania do cantor, que resultou não em um, mas dois discos (os hoje clássicos Use Your Illusion I e II), mas atrasou em mais de um ano o cronograma de lançamentos do Guns — além de ter decretado seu fim, em 1993.

O que veio a seguir é um período que qualquer fã gostaria de esquecer, com Axl pilotando uma versão apática do Guns N' Roses em apresentações sofríveis apoiadas por um álbum que já tinha virado motivo de piada — o esquecível Chinese Democracy. Sem contar uma série de ronhas judiciais envolvendo os ex-integrantes que pareciam sepultar qualquer chance de diálogo.

Mas eis que em 2016 o impossível acontece. Desavenças colocadas de lado, trio de fundadores reunido, músicos em plena forma, repertório afiado e shows grandiosos para plateias enlouquecidas. Esta noite no Beira-Rio, quando Duff começar a cavalgar seu baixo na introdução de It's so easy e 50 mil pessoas estiverem na ponta dos seus dedos, pode ter certeza: vai parecer mesmo que é tudo fácil para o Guns.

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