17 anos ao lado dos leitores

Publicado em 25 de abril de 2017

 

"Essa é, a partir de hoje, a principal missão do Diário Gaúcho. Mostrar como trabalhadores, estudantes, donas de casa e, enfim, toda a comunidade da Região Metropolitana vivem o seu dia a dia. Aliado a este objetivo, existe outro igualmente importante: ajudar os leitores a resolverem seus problemas do cotidiano. O Diário Gaúcho é isso: nas horas boas e más estaremos sempre junto com o leitor."

 

O texto acima foi publicado na página 26 da edição número 1 do DG, em 17 de abril de 2000. O jornal prometia circular todos os dias para defender os interesses dos seus leitores. Depois de 5.294 edições, comemoramos 17 anos de existência com a promessa de seguirmos cumprindo o que prometemos no texto lá daquele primeiro dia.

 

Para celebrarmos a data, apresentamos cinco histórias de leitores que confirmam a presença do Diário Gaúcho na vida deles.

As histórias

Ler o Diário Gaúcho se tornou o hábito diário de família da Vila Safira

Aos quatro anos, Mariana Simões Ribeiro, moradora da Vila Safira, no Bairro Mario Quintana, em Porto Alegre, ainda não sabe ler, mas abre um sorriso quando vê o pai, o segurança Giovani Luiz Ribeiro, 31 anos, folhear as páginas do jornal que se tornou parte da família. Faceira, Mariana aponta e fala repetindo:

 

— Minha foto tá no jornal! Minha foto tá no jornal!

 

A menina se refere a uma edição de final de semana de novembro de 2013, na qual está publicada a foto dela aos dez meses de idade. A homenagem prestada por Giovani à primeira filha causou rebuliço entre parentes e amigos, se tornando inesquecível para ele e a mulher, a dona de casa Pâmela de Fátima Simões Luz, 24 anos.

 

— A avó comprou na primeira hora da manhã, como sempre fazia, e viu a Marianinha na página. Imediatamente, começou a ligar para todos. Cada parente comprou dez exemplares e saiu distribuindo pela Lomba do Pinheiro, onde morávamos. Nunca imaginei que publicariam a foto da minha filha — afirma, emocionado, o segurança que é um leitor assíduo do jornal.

 

Diariamente, antes de seguir para o trabalho, Giovani costuma comprar o Diário Gaúcho junto com o pão do café da manhã. Conta que começa a leitura pelas páginas de esporte, depois, passa para o que chama de curiosidades das primeiras páginas e sempre procura algo nos classificados. Giovani revela que não tinha o costume de ler, principalmente, jornais.

 

— Virou hábito ler o Diarinho. Não consigo passar um dia sem dar uma folheadinha. Quando não compro em casa, leio no intervalo do serviço — comenta.

Casado há cinco anos com Pâmela, o segurança acabou contagiando a mulher com a mania da leitura matinal. E foi pelas páginas do jornal que ela conseguiu um emprego como operadora de caixa num supermercado, em 2012, depois de ficar desempregada por mais de um ano. A oferta estava na seção Espaço do Trabalhador.

 

— Desde guria leio o Diário. Mas depois que casei ele passou a fazer parte da nossa casa. É mais um entre nós

 

— garante Pâmela, que deixou o emprego depois de quase dois anos.

Mas não foram só Mariana e a mãe que tiveram boas histórias ligadas ao jornal. O próprio Giovani participou de uma promoção e ganhou ingressos para o jogo beneficente organizado por jogador do Internacionoal D'Alessandro.

 

— O bom do DG é que ele é rápido de ler, prático e barato. Leio na parada, no ônibus, na mesa do café. Continuarei lendo e ainda vou passar o hábito para a Mariana e para a Giovana (segunda filha do casal, de dez meses) — garante Giovani.

 

Durante a reportagem, o segurança levou a família e o jornal do dia a uma praça próxima de casa. Enquanto embalava a filha mais velha no balanço, manteve o jornal firme embaixo de um dos braços. De tão acostumado a carregar o DG, não percebeu a façanha.

Corações Solitários uniu casal

de Nova Santa Rita

Quando viu a própria mensagem escrita em nove linhas e publicada na seção Corações Solitários, do Diário Gaúcho, em 8 de agosto de 2003, o alambrador Egilson Machado, 33 anos, então morador de Tramandaí, imaginou que ficaria sem respostas. Enganou-se. Dos 30 retornos recebidos, a maior parte se tornou conversas sem rumo e encontros desconexos. Mas foi aquela carta enviada ao jornal, cujo único propósito era o de conhecer pessoas de outros lugares, que acabou levando Egilson — leitor assíduo do jornal — ao altar.

 

Hoje, casado há 13 anos com a dona de casa Ana Cláudia Santos da Silva Machado, 34 anos, de Nova Santa Rita, ele recorda com carinho do primeiro contato da mulher, na época deixado numa das gavetas da memória por cerca de um mês.

 

— Estava começando um relacionamento quando a carta dela chegou. Apesar de tudo, não a esqueci. Voltei a procurá-la quatro meses depois, depois de terminar a outra relação — conta.

 

— Lia sempre o Diário Gaúcho, mas foi a primeira vez que tomei a coragem de escrever para alguém. Quando enviei a carta a ele, jamais imaginava que fossemos nos conhecer pessoalmente. Muito menos, casarmos — completa Ana Cláudia.

Nos cinco meses seguinte, se seguiram conversas diárias ao telefone. Como moravam a 150km de distância, os dois não se conheceram pessoalmente antes de terem a certeza de que o sentimento era mútuo.

 

— Queimei o celular porque passávamos a noite falando. Comecei a gostar dele de verdade e passei a enviar poemas. O Egilson admitiu que gostava de poesia, e isso foi um dos tantos pontos que tínhamos em comum — revela a dona de casa.

Homenagem

 

O primeiro encontro do casal ocorreu em São Leopoldo, no Vale dos Sinos, na casa de uma irmã de Egilson. Ana Cláudia, apesar de já ter 21 anos, temia que o pai a proibisse de conhecer o pretendente. Por isso, comunicou apenas a mãe. No mesmo dia em que se conheceram, os dois tiveram a certeza de que o romance acabaria engatando. Foram dois encontros antes de Egilson conhecer a família da namorada, um mês depois. Namoraram à distância durante os quatro meses seguintes, até que o jovem tomou a decisão: casavam ou se separariam.

 

— Não tive dúvidas, na mesma hora, aceitei! — recorda Ana Cláudia.

 

Durante um período, o casal morou no Litoral Norte. Porém, a falta de oportunidades de trabalho levou os dois a retornarem para a cidade dela. No ano passado, o casal oficializou a união no civil. Hoje, vivem nas terras onde Egilson presta serviços como alambrador. Nas horas de folga, enquanto leem o DG comprado no Centro da cidade, gostam de sorver um mate à sombra das árvores do terreno. Juntos, planejam a próxima etapa da vida a dois.

 

— Até o próximo ano queremos ter o bebê DG! — afirma a mulher, aos risos, apoiada pelo marido na homenagem ao jornal que os uniu.

A história do jovem que cresceu graças à ajuda dos leitores

Aos oito anos, Igor Ubirajara Madeira Roldão enfrentava um problema hormonal e tinha o tamanho de uma criança de cinco anos. A situação preocupava a mãe, a então diarista Maria Berenice de Mello, do Bairro Santa Cecília, em Viamão.

 

Sem dinheiro para comprar o medicamento manipulado que garantia o crescimento do filho, ela procurou o Diário Gaúcho em julho de 2002 para expor a situação e pedir auxílio da prefeitura. O menino precisava de um comprimido por dia de Oxandrolona 3mg. O tratamento seria por tempo indeterminado.

 

Na época, devido às dificuldades financeiras da família, Igor deixara de lado o tratamento que fazia havia três anos. Maria Berenice, que fazia faxinas e lavava roupa para fora, não conseguia bancar sozinha o custo da medicação do filho. A publicação da primeira reportagem mobilizou os leitores.

– No mesmo dia em que a reportagem foi publicada, uma corrente de solidariedade se formou. Nunca imaginei que o jornal teria tanta força – admite Maria Berenice.

Para a surpresa da família, entre as 17 ligações recebidas, uma foi especial: um empresário do Vale dos Sinos, que sempre pediu para não ser identificado, pagou todos os novos exames e um ano de plano de saúde para o menino. Igor fez todo o tratamento com um geneticista do Hospital da Criança Santo Antônio. E dos 1,18cm que tinha aos oito anos atingiu os 1,63cm, altura que tem hoje, aos 23 anos.

– Enfrentava todo o tipo de bullying na escola, não queria mais estudar porque me chamavam de todos os apelidos possíveis. Me tornei um guri agressivo para me defender. Voltar a fazer o tratamento trouxe um grande alívio para todos nós – conta Igor, que hoje trabalha como tamboreiro.

 

 A história do menino que não crescia ainda ganhou outras duas publicações no jornal. Seis meses depois de reiniciado o tratamento, Igor já havia crescido 3cm – como mostrou a reportagem.

 

Jovem procura, agora, por doador anônimo que o ajudou

 

Quando viu o chamado do Diário Gaúcho no início deste mês, convocando os leitores para contar sobre a presença do jornal nas suas vidas, a atual higienizadora Maria Berenice, 59 anos, não teve dúvidas e enviou a sua história. Para ela, nada foi mais importante em quase seis décadas de vida do que ter recebido o apoio de gente que nem conhecia.

– Na época, fui criticada por expor o nosso problema. Mas, pelos meus filhos, eu vou até o inferno. Se não tivesse mostrado a nossa situação, não sei se o Igor teria crescido e se tornado o pai de família responsável que é – reconhece.

 

Maria Berenice já não mora mais na casa onde vivia com os três filhos na época da primeira reportagem. Igor segue no local com a mulher e a filha Soraya, de quatro anos. A todos que desconhecem a história, ele faz questão de contá-la.

 

E entre os desejos ainda não conquistados pelo jovem, um ele pretende realizar:

– Estou procurando o senhor do Vale dos Sinos que me ajudou muito. Não cheguei a conhecê-lo, mas quero ele saiba que salvou a minha vida. Meu único desejo é dar um abraço nele e dizer muito obrigado!

Aposentado que era fã das cruzadinhas foi sepultado com exemplar do jornal

Num gesto que não surpreendeu os amigos de Oscar Domingos Chies, de Gravataí, familiares o sepultaram em 3 de abril com uma caneta azul no bolso da camisa e um exemplar do Diário Gaúcho, as duas maiores paixões do mecânico aposentado que morreu aos 79 anos, vítima de complicações pulmonares e cardíaca.

 

— Quem chegava próximo ao caixão dizia "vocês lembraram!". Todos sabiam que ele era um grande fã do Diário Gaúcho. Não começava o dia sem fazer as cruzadinhas. Tinha orgulho de dizer que havia aparecido no jornal duas vezes — recorda a neta Sheila Chies Cardoso, 38 anos.

 

Na primeira vez em que saiu nas páginas, Oscar opinou em uma reportagem sobre a saúde em Gravataí. Em outra ocasião, durante a Copa do Mundo, ele foi um dos 11 jogadores da Seleção Brasileira, pois tinha o nome de um dos atletas.

 

A filha Sara Chies, 53 anos, recorda que o pai sempre gostou de ler, mas depois que conheceu o DG fez dele um vício diário. Era comum vê-lo com o jornal embaixo do braço. Nas férias de verão, o dono do mercado chegava a guardar os exemplares com o nome de Oscar para quando ele retornasse a Gravataí.

 

Nos últimos meses, quando um problema pulmonar o fez diminuir a caminhada de uma quadra até o mercado, o vô passou a ir de carro ao local. Até enquanto esteve lúcido durante a última internação no hospital ele exigia que os familiares seguissem comprando o DG para ele.

 

— Meu pai deixou de ler só quando piorou mesmo, três dias antes de falecer — lembra a filha.

Enquanto olham as fotos do patriarca, a filha Sara, a sobrinha e nora, Adelaide da Rosa Chies, 61 anos, as netas Sheila e Suelem da Rosa Chies, 30 anos, e a bisneta Julia Chies Cardoso, 13 anos, recordam a faceirice do aposentado, que foi casado por 59 anos com Rosa Peres Chies, 84 anos, que vive numa casa de repouso. Outra marca das imagens do aposentado era a caneta azul ou vermelha sempre no bolso da camisa. Era com ela que Oscar fazia as cruzadas do jornal, garantem as parentes.

 

— Para o pai tudo estava sempre bom. Era uma pessoa que só queria o bem dos outros. Até por isso, decidimos seguir nossas vidas depois da partida dele. Fica uma saudade boa de tudo que fizemos juntos — garante Sara.

 

Um amigo chegou a sugerir à filha que ela continuasse algum gesto comum do pai para enfrentar o período do luto.

 

— O que ele mais fazia era ler o DG — resume.

Certa vez, a filha garante que Oscar sugeriu a uma das netas que cursasse farmácia na universidade porque era o profissional que mais pediam nos classificados do Diário Gaúcho. A jovem aceitou o desafio e hoje é farmacêutica.

 

— O jornal influenciou até nisso! — acredita Sara.

 

Colecionador dos kits ofertados pelo jornal, Oscar juntava os selos e era o primeiro a trocá-los em Gravataí. Os produtos se tornavam presentes, distribuídos entre os três filhos, seis netos e dois bisnetos. E para homenageá-lo, a neta Suelem passou a ler o jornal e promete manter a tradição do avô. Mesmo tendo perdido os selos seguintes à morte de Oscar, ela reuniu parte dos exemplares para finalizar a última cartela iniciada por ele, que ainda leva sua assinatura: a do kit Faqueiro.

 

— Estou tentando reunir os selos que faltaram porque tenho a certeza de que ele ficará muito feliz, onde quer que esteja. O vô pediu muito que a gente continuasse a coleção — revela a neta, emocionada.

 

Durante a entrevista, enquanto recortava alguns para colar, Sheila deixou cair um deles. Imediatamente, a filha, uma neta e a nora correram para juntá-lo.

 

— Caiu um selinho! — disse Sara.

 

— Junta! — falou Adelaide.

 

— Este aí é precioso — finalizou Suelem, antes de colocá-lo na cartela do vô Oscar.

A babá que teve momentos de rainha do lado de Roberto Carlos

por causa do jornal

Quando cita os quatro grandes momentos que já teve na vida, a babá Sueli Silva de Vasconcellos, 68 anos, do Bairro Harmonia, em Canoas, inclui, entre o casamento e o nascimento dos dois filhos, o dia em que abraçou o cantor Roberto Carlos e lhe deu 12 beijos. O sonho foi realizado graças ao Concurso Cultural Encontro com o Rei, realizado pelo Diário Gaúcho em 2015, no qual o filho de Sueli, Vitor Edi Silva de Vasconcellos, 41 anos, foi um dos vencedores. Como prêmio, ele ganhou dois ingressos para o show de Roberto Carlos, guardados até hoje por ela.

 

— Depois do espetáculo, fomos levados ao camarim. Falei para ele "Robertinho, tenho 11 irmãs e cada uma mandou um beijo". Ele disse "Então, beija, amor". Acabei dando um a mais porque o 12º era meu — conta, às risadas.

 

Ao todo, a babá foi a seis shows do ídolo. Para a ocasião do encontro especial proporcionado pelo jornal, Sueli comprou um vestido novo. A roupa nunca mais foi usada, garante, para manter nela o cheiro do abraço do Rei.

 

— Foram segundos que se tornaram eternos! — garante.

 

No dia seguinte, ao se ver na capa do DG, Sueli não conteve a emoção. Comprou seis jornais, e outros parentes e amigos também guardaram vários exemplares. Na data, o telefone residencial da família não parou de tocar.

 

— Não imaginava que ficaria tão famosa. Foi um momento muito especial mesmo — diz Sueli.

Recordações daquela noite estão por toda a parte da casa da família, desde a foto ao lado do Rei, colocada num porta-retratos em destaque sobre a estante, até a caixinha que recebeu do marketing do jornal contendo os ingressos. Jornais da data também foram recortados e guardados.

 

Um presente único

 

Apesar de gostar mais de Jerry Adriany, Aguinaldo Timóteo e Daniel, o marido da babá, o industriário aposentado Pedro Vasconcellos, 72 anos, apoia a admiração dela pelo cantor. Tanto que, um mês depois da publicação da reportagem sobre o show dos sonhos de Sueli, ele foi fazer compras num mercado do bairro e viu que a foto da mulher ao lado de Roberto Carlos na página que enrolaria os ovos.

 

— Comentei com o dono que aquela era a minha mulher. Ele ficou chocado, e eu peguei a página de jornal pra mim. Não deixei usá-la — confessa Pedro.

 

Fã do cantor desde a juventude, Sueli ainda coleciona LPs e fitas cassete de Roberto Carlos das décadas de 1970, 1980 e 1990, camisetas com o rosto dele e fotografias de todos os shows dos quais participou. E foi isso que motivou o filho a participar do concurso do Diário Gaúcho: dar à mãe um presente único. Juntos, os dois elaboraram a frase transformada em verso que garantiu um dia de rainha a Sueli. É desta forma que ela guarda a data.

DESIGN

Brunno Lorenzoni

REPORTAGENS:

Aline Custódio

FOTOS:

Tadeus Vilani