MATEUS BRUXEL, BD, 31/08/2016
O GOVERNO TEMER

Carolina Bahia

carolina.bahia@gruporbs.com.br

Com sete meses

de vida, já está velho

O governo de Michel Temer termina 2016 desgastado pelos próprios vícios. Com sete meses de vida, já está velho. O ano chega ao fim longe do que os principais articuladores políticos do PMDB projetaram quando assumiram o Planalto em maio. O desemprego continua em alta, a economia não dá sinais de melhora e a desconfiança dos investidores não se dissipou. A situação política é de incerteza. E Temer nem pode culpar a oposição. A bagunça está dentro de casa. Não bastasse a ameaça concreta da Lava-Jato, houve o episódio de tráfico de influência capitaneado por um dos homens de confiança do presidente. Ao invés de priorizar o sucesso do próprio governo, Geddel Vieira Lima operou em causa própria para defender um investimento imobiliário em Salvador, pressionando o agora ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero. Um fiasco. De maio a dezembro, o governo do PMDB perdeu sete colaboradores, quatro deles abatidos pela Lava-Jato. O que não é surpresa. Quando os escândalos envolvendo irregularidades na Petrobras apareceram, todos sabiam que PT e PMDB estavam envolvidos até o pescoço. Os vazamentos das primeiras delações da Odebrecht atingem nomes do núcleo duro do Planalto, como o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o secretário Moreira Franco, além do próprio Temer. Não tardou a começar uma boataria sobre reforma ministerial. Assessor e amigo de Temer, José Yunes não quis pagar para ver e pediu o boné. O recesso começa sem que alguém saiba quem permanecerá vivo até fevereiro, quando o Congresso retoma as atividades. A política vai mal, porém nem tudo é tragédia. O Planalto tem apoio no parlamento e está aliviado por ter aprovado na Câmara e no Senado a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto de gastos, encaminhado a reforma da Previdência e lançado medidas de estímulo à economia. De um lado, faz um agrado aos empresários, acenando com reforma trabalhista. De outro, libera saques de contas inativas do FGTS para aliviar o trabalhador. O grande feito, porém, foi a aprovação do teto fiscal. Mas não terá sentido sem a reforma da Previdência, o imenso desafio de 2017. Aliás, a equipe econômica foi desde o início o grande trunfo do governo. Lua-de-mel com “os meninos de ouro” que durou pouco. Como a economia não reagiu, começaram críticas do PSDB ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Não há milagre. Diante de um cenário de instabilidade, a atividade econômica fica paralisada. E, desta vez, não é o estímulo ao consumo que vai resolver. Deputados que votaram a favor do impeachment já se perguntam se o governo Temer chegará até 2018. É uma interrogação que percorre os gabinetes, corredores e cafezinhos do Congresso. Se o presidente abreviar o mandato, a Constituição aponta uma eleição indireta, com candidato escolhido pelos parlamentares, uma saída assustadora. Quem confia em políticos desmoralizados para eleger o próximo presidente da República? Seria um nome sem legitimidade e mais um ano perdido. Mesmo assim, existem especulações sobre quem poderia assumir esse papel: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro Nelson Jobim e até a atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, são lembrados. Outro caminho é aprovação de uma PEC que permita eleições diretas em 2017, mas é uma negociação bastante complicada. E quando olhamos para a cartela de candidatos à disposição, não é nada animador. Um terceiro cenário é a permanência do próprio Temer, mas com o governo modificado, tomado pelo PSDB. A instabilidade parece longe do fim.
EPISÓDIOS MARCANTES O INÍCIO Temer vira presidente interino em 12 de maio. A posse efetiva ocorre em 31 de agosto. OS ÁUDIOS Ainda em maio, a primeira grande crise é deflagrada pela revelação de conversas de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, com Romero Jucá, recém nomeado ministro do Planejamento, que sugere pacto para “estancar a sangria” provocada pela Lava-Jato. Jucá e Fabiano Silveira, ministro da Transparência, são exonerados. REFORMA NO ENSINO Apresentado em setembro, plano prevê acabar com a obrigatoriedade de artes e educação física, o que gera críticas em todo o país. Temer chega a telefonar para Faustão, que, em seu programa de TV, atacou o projeto. A PEC DO TETO Em outubro, mesmo sob forte protesto popular contra o projeto que define um teto de gastos nos próximos 20 anos, a PEC 241 passa em primeiro e segundo turnos na Câmara. Em dezembro, é aprovada pelo Senado. GEDDELGATE Em novembro, Marcelo Calero entrega o cargo de ministro da Cultura e diz que Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, o pressionou a liberar obra de edifício em Salvador. Geddel renuncia. REFORMA DA PREVIDÊNCIA Temer envia ao Congresso, em dezembro, projeto que propõe aumento do tempo de contribuição e idade mínima de 65 anos para aposentadoria. CITADO NA LAVA-JATO Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, diz que Temer pediu R$ 10 milhões em propina. Dinheiro teria sido pago ao ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e ao assessor especial, José Yunes – que pede demissão.